Por Bruna Galati
Você sabe o que inspirou o surgimento do aplicativo Waze?
Uri Levine é um empreendedor em série israelense que ficou conhecido por desenvolver, junto com outros dois sócios, um aplicativo colaborativo de navegação por satélite. Em 2013 o Waze foi adquirido pelo Google por US$ 1,1 bilhão, em uma transação que superou todas as expectativas na época. No entanto, é provável que Uri não tivesse previsto a abrangência que esse aplicativo alcançaria quando teve a ideia inicial.
Em 2006, no feriado judaico de Rosh Hashaná, Uri tirou um tempo com a família para visitar Metula, uma cidade pequena no extremo norte de Israel, mais ou menos a duzentos quilômetros da sua residência em Tel Aviv. Durante o trajeto de retorno, que estava estimado em três horas, Uri, que estava acompanhado por seus quatro filhos pequenos e sua esposa, precisou tomar uma decisão: qual a rota mais rápida a seguir, já que existiam duas opções.
Dado que seus parentes estavam à frente na estrada, Uri começou a entrar em contato com eles fazendo as mesmas perguntas: “Como está o trânsito por aí? Algum contratempo?”. Foi dessa situação cotidiana que surgiu seu momento “Eureka!”. Ele logo percebeu que ter informações em tempo real de alguém já na estrada era crucial para tomar decisões sobre a rota a seguir, uma ideia que posteriormente se transformou na essência do Waze.
“A jornada do empreendedorismo se resume a criar valor, e a maneira mais simples de fazer isso é solucionando um problema. Se você resolve um problema para alguém, você está criando valor para eles. Tudo começa com isso: identificar um grande problema que vale a pena resolver, algo que tornará o mundo um lugar melhor. Em seguida, é essencial entender quem enfrenta esse problema”, afirma Uri Levine em entrevista exclusiva ao Startupi.
Conversar com quem tem esse problema é fundamental para compreender como isso os afeta e então construir uma solução. Se o empreendedor começar com a solução, ele pode desenvolver algo irrelevante para a sociedade, o que é frustrante, consome tempo e esforço.
“Quando você interage com potenciais clientes, eles lhe dão apoio e a missão para resolver um desafio, é aí que você se apaixona pelo problema. E quando isso acontece, o problema se torna a bússola da sua jornada. Ter essa bússola orienta suas decisões, aumenta suas chances de sucesso e torna sua narrativa mais atraente”, explica.
Em maio de 2007, o Waze foi lançado no mercado com a missão de aliviar os engarrafamentos. Uri Levine explica que, se ele tivesse abordado as pessoas dizendo que estava desenvolvendo um sistema de navegação baseado em crowdsourcing e inteligência artificial – um conceito pouco familiar na época –, poucos teriam compreendido, e menos ainda se importado com tal solução.
No entanto, ele seguiu uma abordagem diferente, focando no problema central da sociedade: o congestionamento de trânsito. Estabelecer um vínculo emocional com o público garante o interesse pelo uso do produto e, a longo prazo, atrai investidores, que enxergam o valor da startup para aportes futuros.
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Startups de Uri Levine
Além do Waze, Uri Levine tem diversas startups no seu portfólio, sendo cofundador, presidente ou mentor do conselho. Uma das mais conhecidas é o seu segundo unicórnio, o Moovit, “Waze de transporte público”, adquirido pela Intel por US$ 1 bilhão em 2020.
Uri também é cofundador e presidente da Pontera (anteriormente FeeX), que ajuda indivíduos a se aposentarem com mais dinheiro, além de permitir uma gestão de patrimônio mais holística e melhores resultados de aposentadoria para seus clientes.
Como cofundador e presidente, Uri tem também a FairFly, que ajuda as empresa a economizarem 10% de seu orçamento e viagens; é cofundador e presidente da Refundit, que simplifica as compras com isenção de impostos e ajuda os turistas a obter o reembolso do IVA, economizando tempo, papelada e filas no aeroporto, e cofundador e presidente da Fibo, de declarações fiscais em curto prazo.
Além disso, Uri é também investidor e membro do conselho da SeeTree, que tem respostas para desafios na agricultura; é membro do conselho da Infosys, líder global em consultoria e serviços digitais de última geração, e presidente da Zoomcar, que introduziu o primeiro mercado peer-to-peer da Índia para carros com modelo de mobilidade por assinatura compartilhada.
Ecossistema de startups brasileiro na visão de Uri Levine
Quando se trata da comparação entre os ecossistemas de startups do Brasil e de Israel, Uri traz algumas diferenças marcantes. Israel é um país menor e, quando uma startup é fundada, traz uma abordagem global desde o início. O país também possui o serviço militar obrigatório, uma experiência que, segundo ele, amadurece jovens mais cedo e os ensina a perseverar diante de desafios. Levine observa que o Brasil, com sua grande escala, pode não adotar a mesma mentalidade global desde o início.
Essa questão de globalização de startups é tão importante para Uri que, questionado sobre inspirações brasileiras no ecossistema de startups, ele destacou André Street, cofundador e presidente da Stone. A escolha do nome vem em razão da história da startup, por ter saído do âmbito regional para o global.
“Toda vez que uma empresa expande para o exterior, eu fico inspirado porque, de um modo geral, a maioria dos empreendedores da América Latina fica na na região e não constrói algo que se torne global, então eu acho que eles são muito impressionantes”, ressalta.
Outro ponto sinalizado por Uri em comparação com os ecossistemas é que o medo do fracasso é muito prevalente na América Latina, incluindo o Brasil, o que inibe o surgimento de empreendedores e de novas startups no ecossistema. Ele enfatiza que a mídia tem um papel fundamental nessa mudança de percepção, tendo que contar as histórias dos empreendedores independentemente dos resultados das suas startups.
Em relação ao setor de investimentos no Brasil, Uri explica que é preciso criar um ambiente mais propício para os investimentos e isso só será possível se o país considerar medidas regulatórias, como feito em Israel, onde um fundo governamental coinveste com os investidores em startups. Isso encoraja os investidores a participarem ativamente do ecossistema.
Uri Levine também avalia a falta de engenheiros no Brasil, uma porta de entrada para futuros fundadores de startups. Ele destaca a necessidade de incentivar mais jovens a estudar engenharia, o que pode ser feito através de medidas governamentais, como oferecer benefícios fiscais aos engenheiros recém-formados. Por último, Uri explica que para fortalecer o ecossistema no Brasil, empreendedores de sucesso devem compartilhar suas histórias e conhecimentos, orientando as gerações futuras.
Medo do fracasso
Uri Levine compara a construção de uma startup com a ida em uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, sem saber o que esperar, mas com muita adrenalina. O fundador do Waze enfatiza que é uma jornada repleta de fracassos, tentativas e erros. “O empreendedor pensa que sabe exatamente o que está fazendo, mas a realidade é que não temos ideia. Então, tentamos uma coisa e não funciona, tentamos outra e não funciona, continuamos tentando até encontrar algo que funcione e, quando o funcionar, poderemos realmente passar para a próxima fase da jornada”, explica.
Para ele, se o empreendedor tem medo de falhar, na realidade ele já falhou, porque nunca vai tentar. Mas também é necessário falhar rápido, para ter tempo e recurso para construir uma nova versão do negócio. Uri exemplifica falando sobre duas startups gêmeas que começaram exatamente no mesmo dia e com o mesmo progresso. Então, um dia uma delas quer lançar um novo produto que ainda não está pronto por completo.
Apenas uma se arrisca e lança o produto no mercado, e o resultado é um grande avanço do negócio, porque houve o teste do produto, o erro, a construção de novas abordagens e a ida novamente aos clientes. “O maior inimigo do bom é o perfeito. Seu produto não precisa ser perfeito, precisa ser bom suficiente para ganhar o mercado”, completa Uri.
Uma estratégia importante para alcançar o sucesso da startup é a concentração na essência do problema que será solucionado. O segredo, de acordo com Levine, não está apenas no que se faz, mas também no que se deixa de fazer. Ele destaca a necessidade de dizer “não” a uma vasta quantidade de possibilidades para manter-se direcionado em sua missão central.
Uri Levine explica essa abordagem com sua própria experiência ao liderar o Waze. Mesmo com sugestões de diversificação, como a construção de rotas para pedestres ou inclusão de rotas de bicicleta, Levine optou por se concentrar nas necessidades dos passageiros diários. Esse compromisso firme com a missão original – amenizar os problemas no trânsito –, é uma lição valiosa que permeia a trajetória de empreendedores notáveis.
O empreendedor apaixonado veio ao Brasil para divulgar o seu novo livro “Apaixone-se pelo problema, não pela solução”. O produto já está disponível para compra na pré-venda.
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