Por Bruna Galati
“Atuo na área de tecnologia há quatro décadas e ao sair do mundo corporativo, percebi que a melhor forma de continuar nesse meio era fazendo mentorias e investindo em startups. Óbvio que eu não tinha o capital para ser um fundo de investimento, então comecei como investidor-anjo”, conta Cezar Taurion sobre a sua história.
Mas quem é Cezar Taurion?
Taurion é um profissional estudioso de tecnologia da informação desde o fim da década de 70. Atuou como sócio e líder de operação da Kick Ventures, organização dedicada a conectar startups ao mercado por meio de investimentos-anjo e parcerias de inovação corporativa. Além disso, durante 12 anos desempenhou o papel de diretor de Novas Tecnologias Aplicadas e Chief Evangelist da IBM Brasil. Sua experiência também inclui cargos técnicos e executivos em empresas como Origin, onde criou e liderou o Origin Consulting Group, além de ter trabalhado na Shell e no Chase Manhattan Bank. Ele também foi sócio-diretor e líder da prática de IT Strategy da PwC, uma das principais consultorias de negócios do mundo.
O sonho de Taurion sempre foi se tornar piloto de avião. Mas, por ser míope, precisou mudar os planos e explorar outras opções de carreira. Foi durante seus estudos em economia que Cezar Taurion teve seu primeiro contato próximo com a tecnologia. Um professor apresentou-lhe um computador e despertou seu interesse por essa área em constante evolução. A partir desse momento, ele mergulhou cada vez mais fundo no mundo da tecnologia, trabalhando em grandes multinacionais e atuando como consultor.
Um marco importante em sua carreira foi quando Cezar se tornou diretor de novas tecnologias na IBM. Nessa posição, ele se dedicou a conectar inovações provenientes de centros de pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo com grandes empresas no Brasil. Sua missão era aproveitar o potencial da tecnologia para impulsionar o crescimento e a eficiência dessas organizações.
Durante sua passagem pela IBM, Taurion teve a oportunidade de participar de programas que promoviam a conexão entre startups e grandes empresas, e encontrou uma forma de identificar novas ideias em constante surgimento. Cezar Taurion viu uma lacuna nesse meio: as grandes empresas possuíam potencial para inovação, mas muitas vezes enfrentavam desafios significativos que as impediam de florescer. Processos rígidos, regras de compliance e uma série de indicadores burocráticos faziam frear a agilidade e o surgimento de novas ideias, por isso elas precisavam se conectar com startups. Foi aí que ele começou a mentorar e investir.
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Cezar Taurion se tornou investidor-anjo
Após décadas de experiência no mundo corporativo, Taurion fez uma transição e começou a investir e mentorar startups. “Mas sempre buscava investidas que estivessem alinhadas com as minhas experiências de negócio corporativo. Ou seja, não apenas o capital financeiro, que não era muito, mas principalmente o capital relacionamento e o capital intelectual para startups”, explica.
Em 2014, quando Cezar Taurion entrou oficialmente para o ecossistema de startups, ele percebeu a existência de duas “tribos” distintas. Por um lado, os mais jovens e inexperientes do mercado, que acreditavam ser inovadores, mas não entendiam muito sobre o mundo dos negócios e queriam fundar uma startup. Por outro lado, tinham as corporações que não sabiam como se comunicar com as startups. Essa falta de entendimento mútuo e o isolamento entre as duas partes motivaram Taurion a preencher essa falha e ajudar os empreendedores a compreender melhor o mundo corporativo, os desafios dos negócios e como se comunicar de forma eficaz com os executivos.
Sua experiência o levou a identificar que, para uma startup decolar, além de ter uma grande ideia, é necessário ter capacidade de execução, investimento em marketing e um bom entendimento das necessidades do mercado. Taurion adotou uma abordagem seletiva ao investir em startups, focando em setores que conhecia bem e onde poderia agregar valor com a sua bagagem e rede de contatos. Ao todo foram 12 startups investidas e mentoradas, com metade delas chegando ao exit.
Tese de investimento
Um dos setores que mais chamava atenção de Cezar Taurion era o de saúde, tendo investido dois terços do seu capital nesse segmento. Hoje, o executivo continua sendo conselheiro da Associação Médica Brasileira, ajudando a construir estratégias que usem tecnologia para alavancar a saúde do país. A outra parte do seu dinheiro foi investida em startups B2B, que tivessem empresas como cliente.
Depois de entender que poderia contribuir com o seu smart money, Cezar Taurion avaliava os fundadores da startup. “Quem são as pessoas por trás dessa startup? Não adianta ser criativo e arrogante. Então, eu ia tomar um café com os fundadores, como eles se portavam com o garçom, se tinham educação. Porque isso refletia na boa relação com os seus colaboradores. Eu sempre valorizei a humildade.”
Outro ponto que Cezar Taurion analisava antes de investir é se os fundadores eram maduros o suficiente para entender que precisam ter paixão pelo problema e não pela solução criada. “É preciso ser apaixonado pelo problema, porque se sua solução não resolve isso, é preciso repensar. Se o fundador for cabeça dura e apaixonado pela solução, no fim não vai mudar e não consegue pivotar. Então, já cortava isso de início.”
Mentorias: como um irmão mais velho
Para Cezar Taurion, o mentor de uma startup é como um irmão mais velho. Ele fazia encontros periódicos com os fundadores e ensinava sobre fluxo de caixa, análise dos números da startup e entendimento que o mercado B2B não cresce adoidado. Além do ensinamento sobre o mercado e como se conectar com grandes corporações.
“O fundador chegava empolgado me contando que conversou com o assessor do gerente de inovação da grande corporação. Era um passo importante, mas ele não conseguia chegar no contato com os C-level, que são as pessoas que realmente assinam contratos. Eu mantinha os pés do fundador no chão e ensinava estratégias para chegar até o executivo que interessava.”
Depois de entender que já tinha passado todo seu conhecimento para os fundadores e que suas mentorias estavam ficando repetitivas, Cezar Taurion vendia sua parte da investida e seguia para a próxima startup.
De acordo com Taurion o ecossistema de startups passou por uma significativa evolução nos últimos anos. No início, era uma verdadeira febre, com a criação indiscriminada de aceleradoras por todos que se aventuravam em iniciar uma startup. Porém, faltava uma compreensão clara do propósito dessas aceleradoras e das métricas necessárias para mensurar o sucesso das startups aceleradas. Faltava maturidade e sobrava empolgação naquela época, com muitos artigos, palestras e pessoas surgindo com grandes ideias, como por exemplo criar um aplicativo e competir com gigantes como o Facebook, sem considerar os desafios reais do mercado.
Atualmente, os investidores estão mais cautelosos, buscando startups resilientes e sustentáveis, em vez de simplesmente focar em um crescimento desenfreado. O controle financeiro e a busca pela lucratividade são aspectos fundamentais. Hoje, Taurion observa um mercado mais maduro, com investidores e startups mais conscientes do que desejam e como interagir com o ecossistema. “Estou muito mais otimista agora do que eu estava. No início, em 2014, eu tinha que lutar muito contra ideias mirabolantes que não tinham futuro. Eu recebia dez e doze pitchs por semana. Agora não, agora as ideias são mais concretas.”
Empreendida após investidas
Neste ano, Cezar Taurion decidiu dar uma pausa nos investimentos-anjo para concentrar-se em sua nova empreitada. Surge assim a RedCore, uma consultoria fundada há apenas dois meses, com a proposta de ir além do “hype” da inteligência artificial e auxiliar as empresas a investir nessa tecnologia de forma assertiva, evitando ilusões e equívocos. Como parceiros, estão Vinicius Cezar, ex-proprietário da Privally Global (vendida para a Tivit), e Gustavo Zaniboni, com experiência na indústria aeroespacial e de defesa.
A RedCore atuará como uma consultoria abrangente, oferecendo serviços diversos, como consultoria, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e educação. Além disso, a empresa já deu início ao desenvolvimento de um sistema chamado Recore LightHouse, cujo objetivo é monitorar o nível de maturidade de uma empresa em relação a determinada tecnologia. Esse sistema, baseado no conceito de Technology Readiness Levels (TRL), desenvolvido pela NASA, avaliará a maturidade de uma tecnologia específica e fornecerá informações precisas sobre a prontidão da empresa em adotá-la.
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