Por Bruna Galati
Quando tudo ainda estava no início no ecossistema de inovação e startups do Brasil, lá por volta de 2008, Marco De Biasi se juntou com mais 5 “sonhadores loucos”, como ele os descreve, e criou a São Paulo Anjos, uma associação privada de investimentos-anjo. O assunto era tão novo que quando buscaram parcerias com empreendedores, alguns negaram de início por acharem que o “anjos” do nome remetia a uma associação religiosa.
Mas a trajetória de Marco começou muito antes desse movimento para fomentar o ecossistema. Biasi nasceu em Veneza, na Itália, uma cidade sem estradas e ruas para carros, apenas canais para o transporte marítimo. Se formou em administração e finanças e trabalhou em uma grande empresa de telecomunicações – a TIM, que em 1995 resolveu expandir para a América Latina, levando Marco para morar na Argentina, Chile e agora Brasil.
Por volta dos 30 anos, com uma vasta experiência no mercado, em razão do seu longo tempo como diretor da TIM, Marco percebeu que era hora de mudar de rumo. Ele sentia que conseguia fazer mais e uma carreira corporativa tradicional limitava oportunidades de contribuir com a sociedade – foi aí que começou a investir em startups early-stage.
Depois de 7 anos com a São Paulo Anjos, fundou, com mais dois parceiros, a empresa LAAS – Latin American Angels Society. “A associação era algo bonito, mas nem todos que passavam por lá tinham um foco em investimentos. Fundamos a LAAS para ter um foco no investimento em startups early-stage, que já tenham passado por um programa de aceleração e que tenham um MVP validado”, explica.
Marco analisa o cenário atual do ecossistema, que tomou um rumo diferente por volta de 2015 e segue se desenvolvendo cada vez mais. “Nessa época, vimos uma mudança impulsionar o ecossistema no Brasil. As empresas tradicionais começaram a pensar em inovação para fora dos seus negócios, uma vez que isso fomentaria de forma mais rápida o crescimento delas. Inovação que fosse através da procura de soluções, não só investir internamente, isso garantiu novos exits no mercado. E acredito que o Brasil continuará seguindo esse caminho por mais um tempo”.
Para o investidor, tirando seu país natal, não existe lugar no mundo tão ótimo quanto o Brasil. Ele acredita que os brasileiros têm uma visão distorcida sobre seu país e quando pensam em construir suas carreiras no exterior deixam o Brasil com menos credibilidade, mas aqui na verdade é um local cheio de oportunidades e outros países não tem nada de diferente que não possa ser feito aqui. Marco diz que gosta do Brasil porque as pessoas são maravilhosas e há muito potencial a ser explorado ainda.
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Mentorias necessárias, segundo Marco De Biasi
Marco já investiu em 12 startups diretamente e fez muitos investimentos em conjunto. Para ele, a junção de conhecimento ao investir com outros é importante para a startup, uma vez que cada um tem a sua experiência de mercado e pode agregar em diferentes pontos do desenvolvimento do negócio.
Em 2017, começou a mentorear e se tornou diretor do programa de aceleração Founder Institute. “Ser um investidor-anjo vai além do financeiro. É a possibilidade de se conectar com empreendedores, conhecer novas pessoas e trabalhar com diversas áreas. Ser investidor para mim significa estar vivo sempre e poder trabalhar o smart money através dos meus conhecimentos, além de aprender muito.”
Ao conversar com o Startupi, o investidor compartilha algumas boas práticas para serem feitas durante um processo de mentoria. O primeiro passo é marcar com os empreendedores reuniões de alinhamento a cada 2/3 meses, principalmente porque no início a startup talvez não tenha tanto conhecimento sobre números e ela precisa interpretá-los. Além disso, é importante o investidor saber onde seus recursos estão sendo aplicados, se é para o crescimento de uma determinada área, ou apenas para o sustento do negócio.
Uma vez que o empreendedor entende que terá reuniões mensais que cobram resultados, a chance dele desandar do objetivo de crescimento é pequena. Se o investidor abandona o empreendedor, há possibilidade dele perder o rumo, principalmente quando se trata de contratos e tipos de desenvolvimento. “Ter um bom parceiro de contabilidade é muito bom porque ajuda a ver os valores com clareza. Os números não mentem, não só de faturamento, mas também onde a startup está gastando dinheiro, quanto tem de caixa e o que está fazendo. Porque se o empreendedor tiver uma visão diferente, ele pode perder o rumo e seu dinheiro.”
O investidor não tem o papel de fiscalizador, mas sim de um colaborador participativo. Marco comenta que ele pode participar de conselhos de administração da empresa e ajudar nas estratégias, por isso é muito importante o investidor começar aportando em um empreendedor que ele gosta, porque será muito além de um negócio, terá uma troca de sentimentos e importância também.
Tese de investimento
Marco valoriza muito startups de impacto, que produzem soluções para a sociedade, meio ambiente, saúde e alimentação. Ele também avalia a cultura da startup para entender se ela tem um propósito de melhorar a vida das pessoas. “É importante também que a startup tenha testado seu MVP com o cliente; que tenha um time dedicado; que tenha vontade de dar continuidade no seu negócio, porque às vezes o empreendedor perde a motivação, por brigas ou por não ter resultados imediatos; e também avaliar se a startup tem objetivo de internacionalizar, isso deve estar enraizado, mesmo em um negócio inicial.”
Por fim, o investidor-anjo reforça que o investimento em uma startup não é uma jogada na mega sena que envolve sorte, é uma estratégia que precisa ser bem avaliada e que pode, ou não, ter resultados depois de 3/4 anos – demanda tempo e paciência. Para começar a investir, a pessoa precisa estudar antes e não deve apostar todas as suas cartas em uma solução, porque isso acontece muito, uma vez que ela se apaixona pelo produto apresentado.
“É preciso acompanhar, fracionar o risco e entender que tem startup que vai dar muito certo e tem startup que não vai dar em nada, às vezes é até aquela que mais acreditamos. É importante acompanhá-las porque de início o empreendedor pode estar perdido e ele precisa de um mentor. Tem muitos casos de exclusividade que se o empreendedor assinar, ele perde a oportunidade de ter novos clientes. A mesma coisa com a possibilidade de funding, sempre analise todas as cláusulas do contrato antes de assinar.”
O investidor-anjo não gosta de investir em uma startup com valuation muito alto, uma vez que o risco é menor e ele não terá sentido que ajudou em muitos processos de desenvolvimento. O interessante para ele é sonhar com o empreendedor e ajudá-lo a botar em prática aquela ideia do papel. “Quando chega o investimento de uma Venture Capital, o investidor-anjo tem que entender que não dá mais para ser investidor daquela startup, porque ele está sendo diluído. O investimento inicial vem com o objetivo de ser quadruplicado. Quando a startup chega em uma rodada maior, é hora do investidor procurar uma nova early-stage”, completa.
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