No mundo que conhecemos existe o “Seu Zé”, o seu vizinho, o padeiro, o porteiro, o amigo de confiança, que te indica profissionais e especialistas para suas demandas. Cada vez que precisa de alguém, você pergunta a eles por uma indicação. É diferente de quando você precisa de algo, e muitas vezes recorre a um MercadoLivre ou qualquer portal de e-commerce para comprar um produto.
E é esse panorama que a GetNinjas quer mudar, se transformando em uma espécie de “Seu Zé” virtual e criando um marketplace de serviços e profissionais independentes. Com pouco mais de 2 anos de existência, a empresa cofundada por Eduardo L’Hottellier já recebeu R$ 7 milhões em investimentos, mas ainda está na metade do caminho para um break even.
Alguém que precisa de um pedreiro, babá, técnico de informática, designer ou qualquer outro profissional, pode entrar no site e procurar por um. “Queremos que contratar um pintor na GetNinjas seja tão fácil quanto comprar um livro na Amazon. Ainda há muito o que se fazer para chegar nisso, mas o mercado é grande, circulando muitos bilhões – a gente só precisa acertar nele”, diz L’Hottellier.
A empresa tem suas conquistas. Com mais de 40 mil profissionais ativos, ela já foi responsável pela circulação de R$ 8 milhões. Mas é só o começo. No final do ano passado, ela começou a testar seu modelos de negócios e, em janeiro deste ano, lançou um aplicativo para profissionais. Ainda neste semestre, deve lançar duas novidades bem interessantes (e que, infelizmente, não posso adiantá-las para vocês).
No entanto, talvez demore mais dois anos para ela se tornar uma empresa realmente independente e lucrativa. “É algo natural para martketplaces de serviços. Temos um desafio maior do que o dos e-commerces. Para nós, é como administrar duas empresas: temos que crescer e pensar tanto na base de profissionais quanto na de clientes”, explica L’Hottellier.
Essas duas “empresas” que constituem um marketplace, são também o que ditam o modelo de negócios da startup: seus clientes são profissionais liberais, e os potenciais clientes desses profissionais é o que a GetNinjas deve oferecer. Por isso, há dois modelos de cobrança sendo testados e eles e aplicam apenas aos profissionais cadastrados. Em um, os prestadores serviço pagam uma mensalidade, que varia entre R$ 69 e R$ 139; no outro, eles podem comprar créditos, que são gastos conforme são apresentados a potenciais clientes. Vale destacar que, como os modelos ainda estão sendo testados, a GetNinjas não cobra de todos os tipos de cadastrados – para muitos, o serviço ainda é gratuito.
Mas é interessante observar como a GetNinjas, diferente de muitos marketplaces, não cobra sobre o valor da negociação entre o cliente e o profissional. L’Hottellier explica e faz sentido: “Para cobrar dessa forma, deveríamos fazer um controle das negociações. E não queremos isso, queremos que a comunicação seja 100% livre e aberta entre os profissionais e seus clientes”.
A comunicação, inclusive, é um ponto-chave na estratégia da GetNinjas. Durante a entrevista, L’Hottellier ressaltava o tempo todo como eles estão preocupados com isso. Exemplo: no início deste ano, lançaram um aplicativo para os profissionais. O maior ganho, segundo o executivo, foi que eles conseguiram reduzir em 50% o tempo na comunicação entre os prestadores de serviço e os clientes.
Comunicação também é um dos maiores desafios da GetNinjas. “As recomendações offline ainda detém mais clientes que qualquer outro player do mercado. Parece até meio estranho falar isso, mas, na verdade, o surgimento de outros marketplaces é até positivo – porque traz essa cultura de contratar serviços online para a população. O mercado é tão incipiente que a competição não é direta, todos competimos com o ‘Seu Zé’, o maior marketplace do Brasil’”.
E se por um lado as indicações offline são as que mais disputam com a GetNinjas, os profissionais offline são alguns dos que mais chamam sua atenção. Segundo L’Hottellier, a maior parte do bolo está nos prestadores de serviços que não trabalham na internet. “No começo, nossa premissa é de que seria quase impossível trazer o profissional offline, mas estávamos errado. É claro que a maioria dos pedreiros, por exemplo, não usa internet. Mas a minoria que existe é uma base enorme, suficiente para suprir a demanda que aparece”, explica. “Esses caras usam muito o Facebook e outras redes sociais. Falo com a minha diarista por Whatsapp”, exemplifica.
Início, investidores e desafios
A ideia da GetNinjas surgiu em 2011, quando estavam explodindo os sites de compras coletivas no Brasil e um novo boom de startups começava a surgir. “Fiquei interessado no mercado, comecei a pesquisar e vi que eu também poderia criar algo”, diz L’Hottelier.
Na época, era ele, um sócio que saiu quando a empresa recebeu o primeiro investimento (de R$ 1 milhão da Monashees e Kaszek), e um estagiário que trabalhava por equity. A primeira plataforma do serviço foi comprada por apenas US$ 700 de um indiano que a vendia na internet.
“Lancei o site e vi que começou a ter uma tração legal. Achei que eu era o primeiro, mas logo descobri que tinha mais gente fazendo exatamente o mesmo. Foi uma das primeiras lições: não importava ser o primeiro, mas sim o que fazia acontecer”, diz
E foi exatamente essa vontade de fazer acontecer, somada ao potencial mercado que a GetNinjas almejava, que convenceram os investidores. “O maior desafio não é encontrar alguém capaz, é encontrar alguém capaz e com vontade de fazer aquilo. Eu estava virando noite, tirando dinheiro do meu bolso para fazer acontecer”, conta.
Em pouco tempo L’Hottelier tinha um investimento milionário e nenhuma experiência empreendedora. Segundo ele, o que mais ajudou na época, foi o fato de ele realmente poder confiar em seus investidores. “Se quisessem me sacanear, era muito fácil. Teve cláusula de contrato que só fui entender meses depois, e mesmo assim vi que elas eram justas e serviam para me proteger. Empreendedores devem procurar investidores que realmente acreditem na sua visão de longo prazo”, diz.
Segundo a assessoria da empresa, GetNinjas passou por mais uma rodada de investimento, quando recebeu R$ 6 milhões da Kaszek, Monashees e Otto Capital. Os investimentos ajudaram bastante a startup, que cresce rápido, mas com os desafios que falamos antes.
Com os investimentos e a força de trabalho, eles continuam trabalhando para o break even. E, no momento, o foco é construir ferramentas que facilitem a comunicação entre os profissionais e potenciais clientes; em algoritmos que aproximem as pessoas do prestador de serviço que ela procura; em sistemas de avaliação eficazes; e em atenção aos clientes, para que eles retornem ao serviço e continuem alimentando-o com suas demandas.