“Variedade traz qualidade” é uma conclusão a que vários já chegaram no mercado de startups, em meio às discussões sobre uma possível orkutização (ops, é politicamente incorreto se referir desta forma?) das startups e aceleradoras: qualquer um sem eira nem beira (quiçá estribeira!) se joga buscando um lugar ao sol.
É óbvio que podem fazê-lo e deveriam mesmo! O mar está pra peixe – seja salmão ou sardinha. O aumento da concorrência (como os dois mil sites de cupons desconto que polemizaram 2012 no Brasil) acaba fazendo com que a qualidade melhore, pois é necessário se destacar, é necessário ter a preferência dos clientes (sem contar dos investidores, colaboradores, mentores e “comentadores”).
Várias outras discussões seguem acontecendo sobre o que realmente acelera uma startup – uma pergunta que parece aquela “o que te move?”. Como é uma boa aceleradora? Qual é a melhor? Quando o Chico Saboya anunciou que ia construir uma aceleradora no Porto Digital (lembra do longo papo-cabeça que gravamos neste vídeo?), versamos sobre as semelhanças e diferenças entre uma aceleradora e uma incubadora. “Nos casos mais extremos, são realmente diferentes, mas numa zona menos definida, pouca coisa muda, na prática”, foi mais ou menos a visão dele. Pois, creio que esta zona indefinida pode ser o caso de algumas das MAIS DE CINCOENTA ACELERADORAS que alguns olheiros já sondaram no mercado brasileiro (agora pense em quantas você conhece, já ouviu falar, sabe que ajudaram em algo).
Se o discurso e a prática de várias das aceleradoras que conhecemos hoje consiste em dar um pouco de dinheiro e quantificar também o valor estimado de diversos serviços fornecidos pela aceleradora, pelos mentores e também por parceiros, então por que não entender, numa zona intermediária, que também diversas assessorias e consultorias, de vários tipos, também sejam aceleradoras – a partir do momento em que não cobram pelos seus serviços e os consideram um investimento na empresa cliente, em troca de participação societária?
E quem somos nós para julgar? (Nota do editor: esta é uma pergunta retórica, dispensa respostas). Cada startup e cada empreendedor com sua necessidade, cada apoiador com sua capacidade de contribuir, cada possibilidade de investimento e ajuda com sua própria probabilidade de acontecer. Então, se olharmos para as nove atuais aceleradoras credenciadas ao programa Start-Up Brasil, e questionarmos se elas são as melhores por serem as únicas, obviamente não estaremos corretos. Se dissermos que são as melhores, estamos nos baseando no conjunto da obra, na quantidade de investimentos feitos, quantidade de reconhecimento dos aceleradores (geralmente empreendedores experientes), quantidade e qualidade de whatever – sujeito a interpretação de cada empreendedor interessado?
E desse reconhecimento que os atuais aceleradores contam, quanto será que se deve ao pioneirismo, à escassez de similares no início das atividades? E, onde há empreendedores wannabe, há aceleradoras wannabe. Se surgem aceleradoras e aceleradoras em cada canto do Brasil (tem até prefeito e governador acelerando startups), tocadas por pessoas que não nasceram ontem, que chegaram onde estão por uma mistura de esforço, mérito, sorte e uma gama variada de habilidades e experiências (que não contam com nenhum pré-requisito oficial, nem vestibular, nem protocolação, nem auditoria), quem vai julgar ou prever se os aceleradores vão conseguir acelerar bem?
Como já me disseram alguns aceleradores: obviamente o empreendedor enfrenta um risco gigante com sua startup, por não saber o que vai ser quando crescer – ou mesmo se vai chegar a nascer direito; mas a aceleradora assume uma posição ainda mais ingrata, pois ela paga para ralar junto com o empreendedor. O empreendedor perde tempo, a aceleradora perde tempo e dinheiro, com uma possibilidade de compensação (retorno) muito menor do que o empreendedor (não apenas pela participação minoritária, mas também pelas prioridades da startup, que são reinvestir no crescimento e, obviamente, isso prevê dar pagamento aos empreendedores, mas não distribuir dividendo entre os investidores).
De qualquer forma, o recado deste post é simples: quando o MCTI lançou o Start-Up Brasil, previu que depois de duas rodadas do primeiro edital de aceleração, ia abrir inscrições para mais aceleradoras se credenciarem (veja o edital). Não há sinais de que há descontentamento dos empreendedores ou do Start-Up Brasil com relação ao trabalho das atuais nove aceleradoras credenciadas – só o que percebo é que devem estar realmente atolados de trabalho, pela “facilidade” de comunicação que encontramos. Até o final deste mês, tanto essas nove aceleradoras quanto quaisquer outras devem submeter propostas de aceleração. Só o que se sabe é que serão no máximo 12 aceleradoras. Talvez as nove continuem como as melhores candidatas – contando que queiram se recandidatar. Talvez.
Minha opinião, embasada em cinco anos de trabalho em meio a startups, aceleração e investimento: creio que, se sua startup persegue uma proposta de valor bem específica, é melhor ser acelerado do que não ser – e vale também fazer o tipo de perguntas que fiz neste post. Especialmente se você olhar para a lista de pessoas e entidades/programas/empresas/iniciativas que foram indicadas como as que mais contribuem para o ecossistema de startups no Brasil: praticamente nenhuma aceleradora ou acelerador conquistou mentes e corações de seus apoiados de forma mais marcante que uma porção de empreendedores e investidores que não são aceleradores. Mas, sendo sincero, alguns aceleradores (pessoas) e aceleradoras (entidades) receberam uma quantidade razoável de votos: apenas não foi uma quantidade tão significativa – e os nomes de aceleradoras + aceleradores com boa quantidade de votos não somam nove.
Para os interessados em ser uma aceleradora credenciada ao Start-Up Brasil: Felipe Matos, tecnologista-empreendedor-mentor que assumiu a operação do programa desde o início, vai se reunir online com interessados em compreender o processo de inscrição de aceleradoras entre as 15h e as 17h nesta sexta-feira, em link a ser informado pela fanpage do programa. Se você quer ser uma aceleradora, creio também que é melhor estar credenciado ao programa – pois as startups aprovadas precisam se associar a uma aceleradora, e porque, de alguma forma, pode ser interessante e benéfico o envolvimento com o programa, o governo e as entidades parceiras.
E se você wannabe (quer ser) uma aceleradora credenciada ao programa: saiba que nenhuma verba pública vai passar por dentro da aceleradora: o investimento do MCTI é uma bolsa via CNPq, vai direto para a conta pessoal dos bolsistas (no caso, empreendedores ou colaboradores indicados por ele).
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