Eles são gringos, têm trajetórias de sucesso e, em algum momento por aí, resolveram apostar no Brasil como meta de investimento e de crescimento empresarial.
Tomamos o depoimento de cinco empreendedores, CEOs, investidores e fundadores de startups de outros países que se estabeleceram aqui no lado Sul do Equador.
Vejam, abaixo, as experiências e os conselhos que eles compartilham.
Aynur Abdulnasyrov, CEO e Fundador do LinguaLeo
Onde atua: LinguaLeo, plataforma multimídia interativa de ensino de inglês on-line.
Investimento: US$ 3 milhões. “A empresa iniciou as operações no Brasil em dezembro de 2012, após 3 anos de atividades na Rússia.”
Por que ingressar no Brasil? “Decidimos investir no mercado brasileiro após receber o aporte de US$ 3 milhões da Runa Capital, fundo russo de investimentos. Estávamos estudando mercados potenciais para iniciarmos a nossa expansão global e, após uma extensa pesquisa, descobrimos os países mais promissores para o ensino de idiomas. O Brasil estava entre os principais para investirmos, antes mesmo do anúncio de ser sede de grandes eventos mundiais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
O mercado de internet no país também é um dos maiores e mais importantes do mundo, não apenas em números mas também em engajamento das marcas e empresas com seus consumidores finais, o que gera, para nós, ainda mais oportunidades de negócio. Em 2013, o Brasil atingiu a marca de 100 milhões de internautas enquanto que apenas 3% dos brasileiros estuda algum idioma atualmente e apenas 5% dos quase 200 milhões de brasileiros falam inglês propriamente. Os números por si só mostram que há demanda e espaço para crescer no mercado de idiomas, sobretudo porque oferecemos esse conteúdo online e também para mobile, onde o Brasil também tem bastante representatividade e potencial de sobra para crescimento. Além disso, conquistando o mercado brasileiro que hoje ainda é muito atrativo para diversos investidores de vários setores, estaremos mais próximos da expansão para novos mercados dentro da América Latina que hoje apresentam crescimento expressivo como o México, Chile, Colômbia e Peru.”
O que você acha do cenário nacional de startups? “Respondo essa pergunta no contexto da próxima questão.”
Quais os pontos positivos e pontos a evoluir no cenário de startups no país? “Quando estive no Brasil, em fevereiro desse ano, tive a oportunidade de conversar com diversos empreendedores, principalmente CEOs e executivos de startups, assim como eu. A opinião era bastante parecida entre eles e comprovou algo que conhecia por meio de artigos e matérias sobre o mercado brasileiro.
O cenário nacional de startups saiu da fase de explosão de novas startups em 2011 passando pela atração de centenas de investidores estrangeiros e empreendedores brasileiros que achavam que ficaram milionários só porque tinham uma boa ideia e está agora em uma fase de transição para uma maior maturidade onde os negócios e empresas estão entendendo de fato a importância da mentoria e acompanhamento do negócio a longo prazo, algo parecido com o que vemos também aqui na Rússia. Acho que esses esforços estão hoje sendo bem vistos pelo mercado internacional e isso tem agregado ao Brasil o posto de referência no mundo dos negócios e tirando a imagem do lugar do samba e futebol. Ainda há muito para ser feito assim como na Rússia, mas estou positivo que há mercado suficiente para explorar.
É verdade que os 200 milhões de habitantes do mercado brasileiro soam muito atrativos, no entanto, quando você enquanto empreendedor se depara com a rede burocrática aliada à falta de incentivo fiscal específicos e voltados para startups se desenvolverem no país, o desânimo é inevitável e acredito que nesse momento separam-se os que vieram de olho nos números e nos que realmente querem entender como dialogar com esse mercado e entender as necessidades e características que só existem no Brasil.
Nesse ponto, acho que o mercado tem andado mais rápido que as políticas de incentivo do governo brasileiro e mais rápido também que a capacitação de profissionais aptos a trabalhar em um cenário internacional, algo que, apesar de atrasar e dificultar o cenário do mercado, gera oportunidades para nós já que a barreira linguística não é um problema apenas de viabilidade econômica mas de método.”
Que características uma startup nacional deve ter para atrair um investidor estrangeiro? “No nosso caso, quando fizemos a apresentação que nos rendeu o interesse e posterior financiamento da Runa Capital, algo que ficou muito na cabeça dos investidores foi a escalabilidade do produto e a possibilidade de expandi-lo para diversos mercados. No momento também tínhamos o projeto de lançar a plataforma para mobile, o que atraiu os investidores pelo potencial de mercado que o e-commerce e mercado de mobile têm na Rússia e também nos maiores mercados do mundo.
Também tínhamos experiência no ramo e na criação de outra empresa o que ajudou na validação de competência da equipe. Antes de iniciar a LinguaLeo, tinha uma empresa chamada Native Speakers, uma escola de idiomas com professores nativos de vários partes do mundo para ensinar seu idioma nativo e também já tinha projetos no mercado de internet.
Algo que uma startup deve ter (seja no Brasil ou em qualquer país) para atrair investidores é mostrar que sua equipe de executivos que está à frente do negócio sabe onde está entrando e que inclusive já teve experiências não tão bem sucedidas, afinal, sempre há algo a ser readaptado ou reconsiderado até chegar o sucesso, pode ser o modelo de negócio, os canais, o público, o produto, o empreendedor. Porém, acima de tudo, o empreendedor precisa ser flexível e mostrar que está pronto para as dificuldades que o negócio e principalmente o mercado pode enfrentar.”
Pablo Aquistapace, CEO e Fundador da Eventioz*
Onde atua: Na própria Eventioz, ramo de plataformas digitais para gerenciamento de Eventos
Investimento: US$ 1,5 milhão
Por que ingressar no Brasil? “Porque o mercado de eventos é muito amplo e não é atendido completamente pelas empresas locais.”
O que você acha do cenário nacional de startups? “O Brasil, tanto como Argentina e Colômbia, tem um ecossistema de startups muito forte. Se você deseja formar uma startup, esses países são grandes terrenos para esse criação.”
Quais os pontos positivos e pontos a evoluir no cenário de startups no país? “Os pontos positivos são: o profissionalismo brasileiro, os empresários, os funcionários e todos aqueles que envolvem o negócio. São muito profissionais, e isso é diferente de outros países da América Latina. Além do que, o terreno é bastante fértil, muito aquecido e que será bom para colher frutos a médio e longo prazo. Grandes clientes da Eventioz me indicaram o Brasil para investimento, pois já conheciam o país e sabiam que essa era uma lacuna que necessitava ser preenchida. Os pontos a evoluir são as questões tecnológicas: a internet e telefonia não são como em países como EUA e Europa; não são péssimos, mas poderiam ser melhores.”
Que características uma startup nacional deve ter para atrair um investidor estrangeiro? “Ideias inovadoras e se
ajustar ao mercado, pois questões culturais e econômicas podem interferir no seu negócio. É preciso ser maleável nessas ações.”
* A Eventioz foi adquirida pela Eventbrite nesta semana
Jan Riehle, CEO da Itaro.com.br
Onde atua: “No Brasil, cofundei e atuo nas seguintes startups: Itaro.com.br, e-commerce focado na venda de pneus, peças e acessórios para autos. Agrega o on-line ao off-line ofertando oficinas conveniadas para a instalação dos pneus e acessórios adquiridos no site, onde sou cofundador e atuo CEO. Também cofundei as startups Eotica.com.br, primeira ótica 100% on-line do Brasil; Juv Acessórios, revenda sociais de acessórios de moda; e OndaLocal: empresa de marketing on-line para pequenas e médias empresas.
Além disso, investi em várias outras startups, como Gaveteiro, Emprego Ligado e Infracommerce.”
Investimento: “Geralmente, invisto entre US$ 25 mil e US$ 100 mil, menos nas empresas nas quais sou cofundador. Em algumas dessas empresas, tenho assento no conselho. Em outros casos, após aporte Série A, não estou mais envolvido e atuo apenas como acionista. Na Itaro, atuo como CEO e onde está toda minha atenção diária.”
Por que ingressar no Brasil? “O Brasil é um país em franca expansão em diversas áreas de atuação, inclusive nas compras via web. Ainda há muito lastro para crescimento. O país dispõe de um mercado enorme, com uma base consumidora que, cada vez mais, passa a mudar seu comportamento de compra e pesquisa do off-line para o on-line.
Com uma população jovem, rico em recursos naturais, mas com falta de mão de obra qualificada, o Brasil oferece um enorme potencial para aquelas equipes empreendedoras que buscam construir infraestrutura digital no país, enquanto importa recursos que não encontram no mercado local.”
O que você acha do cenário nacional de startups? “Eu acredito que ainda há muito espaço para boas equipes e muitos nichos são deixados descobertos. A atual crise tem melhorado drasticamente a qualidade das empresas que vão sobreviver no mercado e, ao mesmo tempo, oferece uma oportunidade incrível para os investidores poderem obter bons negócios nessas empresas.”
Quais os pontos positivos e pontos a evoluir no cenário de startups no país? “O ecossistema ainda é muito jovem, mas tem se profissionalizado muito rápido. Qualidade das equipes, o acesso aos investidores, oportunidades de networking e outros fatores de infraestrutura estão melhorando muito a cada ano.
Algumas outras áreas não ajudam muito as startups e não vejo muita mudança em encargos e taxas. Os impostos poderiam ser mais amigáveis para as startups.”
Que características uma startup nacional deve ter para atrair um investidor estrangeiro? “É preciso que seus fundadores falem fluentemente o inglês. E o ideal é que tenham estudado em uma universidade internacional e tenham vivido algum tempo fora do país.”
Peter Propper, Cofundador da OndaLocal
Onde atua: OndaLocal, solução de marketing digital para pequenas e médias empresas no Brasil.
Investimento: [Não revela valores] “Investi bem no começo da empresa em 2012. Apostei na ideia, no projeto e na equipe que é de grande qualidade e excelência. É um mercado ainda a ser muito explorado.”
Por que ingressar no Brasil? “Para uma startup ter chance de fazer um grande sucesso, o mercado precisa estar crescimento e expansão. Isso se deve principalmente porque o mercado brasileiro é atrativo para investidores estrangeiros. Existem outros mercados, talvez mais interessantes em termos de crescimento, mas acho que o Brasil leva vantagem quando consideramos a beleza do o país, o lado cultural, o clima e a diversão das grandes cidades.”
O que você acha do cenário nacional de startups? “Cresceu bastante rápido apesar as dificuldades que os empreendedores tiveram que superar. Acredito que as startups brasileiras estão finalmente conseguindo captar atenção dos mercados da Europa e da América do Norte.”
Quais os pontos positivos e pontos a evoluir no cenário de startups no país? “Há muitas incubadoras e aceleradoras que ajudam a capacitar empreendedores e investidores anjos que têm medo de fazer o primeiro aporte. O governo também está começando a entender a importância desse cenário e está criando estruturas de suporte, especialmente, para as startups que aqui no Brasil realmente precisam ter. Ainda falta muito, mas as coisas já começam a se mexer.”
Que características uma startup nacional deve ter para atrair um investidor estrangeiro? “A primeira coisa mais importante que uma startup precisa ter é uma equipe fundadora forte e sólida, focada 100% no projeto. Os investidores estrangeiros não querem sofrer muitos riscos, então a startup precisa demonstrar que o mercado está respondendo de maneira positiva às ações e atividades da startup. Se uma startup com um ótimo staff tem impulsão, não fica difícil encontrar investidores estrangeiros interessados. Mas de qualquer forma, os fundadores vão ter que procurar muito para encontrar um investidor que realmente esteja disposto a investir.”
Joshua Kempf, Co-fundador e CEO da Gaveteiro
Onde atua: Gaveteiro, empresa especializada na venda on-line de produtos para escritório.
Investimento: Não revela valores
Por que ingressar no Brasil? “Comecei a perceber que o Brasil era um cenário promissor quando ainda estava nos Estados Unidos. Para isso, comecei a fazer aula de português por uma necessidade profissional. Trabalhava na área de investimentos para América Latina do Goldman Sachs, em Nova York. Depois mudei para cá para um intensivo idioma até permanecer aqui em definitivo. A ideia do Gaveteiro, e-commerce de artigos para escritório, surgiu a partir da dificuldade de adquirir itens comuns para seu dia a dia. A empresa saiu do papel após receber um aporte. O mercado no Brasil é ótimo, estamos falando de 200 milhões de pessoas.”
O que você acha do cenário nacional de startups? “Nossa tese desde o início foi que o e-commerce brasileira vai crescer fortemente, especialmente no mercado B2B. Isso significa que se o crescimento do país fica mais lento, nosso mercado vai continuar crescendo rápido.”
Quais os pontos positivos e pontos a evoluir no cenário de startups no país? “O Brasil tem uma conectividade que é superior a qualquer região fora dos Estados Unidos. Isso aumenta o número de pessoas que adotam tecnologia e ajudam a comunidade de startups. Com certeza, o maior desafio no Brasil é a complexidade fiscal.”
Que características uma startup nacional deve t
er para atrair um investidor estrangeiro? “São diversas características, mas há duas principais: o mercado grande e em franca expansão é essencial para que investidores estrangeiros apliquem na sua empresa. Eles procuram uma oportunidade de multiplicar o seu negócio. Outro fator importante é ter uma equipe eficiente e com foco total dentro da empresa.”