Há uns dias, perguntei aqui se customer development (processo consolidado por Steve Blank e bem explicado pelo Eric Santos) tem a ver com os temas da II Conferência Internacional sobre Crowdsourcing, Co-criação e Colaboração, que acontece hoje e amanhã na Fecomércio em São Paulo.
Os leitores Rodrigo Franco, Thiago Paiva, Chendailem e Rafael Carvalho comentaram suas visões, que serão compartilhadas nesta matéria e, de forma a ser definida, pela organizadora do evento, Marina Miranda (da colaboratoria Mutopo). Aproveito para mostrar o vídeo e os slides que o empreendedor norte-americano David (Dave) Harvilicz (da plataforma WhenYouWish) explicou no evento e cedeu para eu compartilhar com vocês.
Opinião de Rodrigo Franco: tem a ver de forma ampla, mas em determinado momento há um paradoxo que requer curadoria
“De forma mais ampla, sim. O crowdsourcing e a colaboração podem ser ferramentas muito eficientes para trazer insights, principalmente nas primeiras fases, de descoberta e validação de clientes. Usando a capacidade das massas de gerar informação, pode haver um grande salto no aprendizado e no próprio negócio – como acontece com o pessoal do Quirky. Mas, em determinado momento, nos deparamos com um paradoxo na co-criação: um banco de dados cheio de insights não significa necessariamente uma startup de sucessos. Aí entra a parte mais importante: o julgamento e a curadoria, que, entre outros, são exemplos claros da contraposição entre coletivo e individual, informação e conhecimento, criatividade e experiência”.
Opinião de Thiago Paiva: crowdsourcing pode auxiliar no customer development, mas apenas complementa (não substitui) e não serve para qualquer modelo de negócio
“Eu acredito que exista sim uma sinergia entre os dois temas. As pessoas podem utilizar o crowdsourcing para fazer validação de conceitos e ideias de forma semelhante ao que o customer development faz para as startups. Se você pegar o caso do Kickstarter ou de outros crowdfundings, eles funcionam não apenas como uma forma de se levantar dinheiro para a execução do projeto proposto, como uma forma de validar com o mercado o conceito do projeto antes de se investir mais tempo e dinheiro nele.
Outros modelos usam o crowdsourcing para definir quais são as melhores ideias para serem desenvolvidas, como o caso já citado do Quirky.com, outro exemplo é o de uma startup de uns amigos brasileiros que estão no Vale do Silício, a TheStoryBoom. Ela usa o crowdsourcing para a geração de ideias para quadrinhos e para validar as melhores ideias antes de se gastar dinheiro e trabalho fazendo um quadrinho mesmo, dessa forma o quadrinho já terá fãs (clientes) quando ele for lançado. Resumindo, acredito que o crowdsourcing pode ser sim utilizado como uma forma de customer development, porém não servirá para todos os tipos de modelos de negócios e nem substituirá o customer development, apenas complementará ele.
Opinião de Chendaliem: não é certo comparar, pois tem os mesmos objetivos mas atuam de forma diferente
“Não é certo comparar o conceito de customer development aos conceitos de crowdsoursing, co-criação e colaboração, pois mesmo que tenham um único objetivo, eles atuam de forma diferente. O customer development parte da empresa/startup para o cliente e o objetivo real do crowdsourcing/ co-criação/ colaboração é a atuação do público nos processos de decisão.
Quando penso em crowdsourcing, eu penso em um processo onde posso atuar apresentando a solução para um problema, como também participando do financiamento, atuando como agente propagador dessa solução e atraindo uma rede de pessoas que compartilha desses mesmos interesses que eu. O mesmo acontece com a co-criação e a colaboração, é uma integração de pessoas que dedicam seu tempo, conhecimento e interesse para a criação de algo que proporcione um diferencial para o mundo ou a comunidade em que vivem.
Acredito que esse movimento de pessoas se reunindo e executando ideias que tenham a ver com o objetivo de uma vida em grupo, gerou uma movimentação das próprias empresas, que passaram a se preocupar em criar soluções de acordo com o comportamento dos nichos de clientes. Hoje as empresas não podem se preocupar com as massas e sim com os interesses de uma sociedade em continua transformação”.
Opinião de Rafael Carvalho: não existe relação, pois os consumidores opinam no crowdsourcing mas não participam da construção no customer development
Na minha opinião, não existe relação. Customer Development é sobre ouvir do cliente, compreender seu dia-a-dia e seus problemas. Contudo a criação da solução continua sob inteira responsabilidade do empreendedor, o cliente não participa ativamente dessa construção. Não existe co-criação e sim compreensão do problema para criação de uma solução baseada em fatos e não em hipóteses.
Ash Maurya também aborda esse ponto em seu livro Running Lean, segunda edição, quando diz ‘(…) even though customers hold all the answers, you simply cannot ask them what they want. (…) Given the right context, customers can clearly articulate their problems, but it’s your job to come up with the solution’. Espero ter contribuído para a discussão”.
Minha opinião: pode haver combinação entre as duas coisas, por exemplo quando o crowdfunding tem o efeito de pré-venda e valida o que está sendo oferecido