Esta é uma frase que eu gostaria que fosse minha. Infelizmente não é. É do educador e advogado Derek Bok, reitor da escola de direito de Harvard entre 1968 e 1971 e presidente da Universidade de Harvard entre 1971 e 1991. Eu conheço esta frase desde os meus 9 anos de idade. O professor Acassil José de Oliveira Camargo (meu tio por afinidade), proprietário e diretor das faculdades Assetta, em Tatuí, mandou imprimir centenas de adesivos com esta frase quando começou a ouvir reclamações sobre o preço da mensalidade nas faculdades e no colégio Objetivo.
Educação nunca foi algo “barato”. Se olharmos para a história da humanidade vamos ver que na Grécia antiga, com exceção de Esparta, as escolas eram privadas e não uma preocupação do estado. Mesmo assim, a maioria dos pais, incluindo os pobres, buscavam bancar a educação para os seus filhos no mínimo entre os 7 e os 14 anos. Os mais abastados prosseguiam até o ensino superior. Uma destas escolas era a Academia de Platão, onde estudou Aristoteles, que depois fundou o Liceu.
Na história moderna a educação é considerada condição básica para o desenvolvimento de um país, sendo compulsória na maioria deles. De acordo com a UNESCO, o número de pessoas educadas formalmente nos próximos 30 anos será maior que o número de pessoas já ensinadas até hoje. Isto é uma grande vitória, apesar da educação continuar sendo cara. De acordo com a CIA, os EUA gastaram em 2007 5,5% do seu PIB em educação, enquanto o Brasil, de acordo com o Inep/MEC, o gasto foi 5,1%. O PIB do Brasil em 2007 foi de R$ 2,6 trilhões. Com uma multiplicação simples cheguei ao valor de R$ 132,6 bilhões investidos em educação pelo governo federal, estados e municípios. E isso não é tudo. Há ainda a educação privada, que movimenta outros bilhões de Reais.
Nos últimos cinco anos tenho trabalhado com educação e empreendedorismo, gerindo programas como o Latin Moot Corp, o Idea to Product Latin America, [até este ano] o Prêmio Empreendedor de Sucesso, workshops de planos de negócios, além de ter pesquisado, escrito e dado aulas e palestras sobre o assunto. E os resultados que temos gerado são satisfatórios. Os empreendedores que passaram pelas nossas competições tem efetivamente lançado negócios de sucesso ou tem logrado muito êxito na expansão de seus negócios. De acordo com as últimos número do Censo de Private Equity e Venture Capital no Brasil, apenas em 2009, 7% da empresas investidas foram oriundas das competições de planos de negócios. Nas minhas contas, o Latin Moot Corp e o I2P tem mais de 17 empresas funcionando nos anos mais recentes. A Arizona, o Grupo HDI e a SambaTech cresceram vertiginosamente desde que foram ganhadoras do Prêmio Empreendedor de Sucesso. Mas educação é cara. Todos estes programas custam dezenas de milhares de Reais.
Quando pensamos em doações as primeiras coisas que vêm à cabeça são organizações religiosas, de saúde, de serviços sociais, artes e meio ambiente. Financiar programas de educação para empreendedores está entre as últimas coisas que nos ocorre e isso é uma contradição. A maneira que vivemos, principalmente no ocidente, só é possível graças à livre iniciativa e ao empreendedorismo. As grandes, mídias e pequenas empresas que nos atendem hoje só estão aí por causa de pessoas visionárias que transformaram uma invenção em uma inovação, ou seja, algo útil à sociedade. Imagine como seria o mundo sem a Ford, a GE, o Pão de Açúcar e os outros supermercados, os bancos, as padarias, os restaurantes e tantas outras organizações que nos servem e garantem a nossa qualidade de vida.
Recentemente conversei com muitos gestores de fundos de investimento no Brasil, principalmente focados em seed e venture capital, além de alguns investidores anjo. Uma declaração corrente é que os empreendedores que aparecem para apresentar ideias, planos de negócios ou mesmo que já estão tocando alguma startup não estão preparados. Segundo eles os empreendedores não conhecem conceitos básicos de estratégia de negócios, de validação de mercado, de finanças de pequenos empreendimentos, entre outras coisas, além de cometerem aqueles erros básicos de todo business plan: mal escritos, incompletos, vagos, com premissas não realistas, dizendo que não há riscos e/ou não há concorrentes e sem pesquisa de mercado. De qualquer maneira, eles já estão recebendo os melhores. Trinta anos atrás, para abrir o seu próprio negócio você teria que batalhar muito por si só. Hoje o ambiente está melhor. Várias escolas já incluíram empreendedorismo em seus currículos e surgiram algumas organizações de suporte, como o SEBRAE e a Endeavor. Há, contudo, muito a ser feito: nos 5 últimos anos de competições na FGV participaram um pouco mais de 100 empresas. Durante todos os seus quase 10 anos de existência a Endeavor apoiou apenas 51 empresas. Isso é muito pouco para um país do tamanho e potencial do Brasil.
Nos EUA, a Kauffman Foundation, maior fundação de apoio ao empreendedorismo no mundo, gastou em 2008 US$ 123 milhões em patrocínios, bolsas, operações de apoio e despesas administrativas em busca da sua missão de dar independência financeira a indivíduos através da educação e da geração de empreendedores de sucesso. No Canadá o empreendedor Stu Clark doou CAD 5 milhões (quase US$ 5M) para a manutenção do Centro de Empreendedorismo da Universidade de Manitoba, onde ele foi aluno. No Brasil ainda não temos esta mentalidade. Algumas poucas grandes empresas tem apoiado estas ações. Basta ver a lista de patrocinadores de programas de empreendedorismo. São quase sempre as mesmas organizações. Ainda não temos o senso de retribuir à sociedade aquilo que exploramos dela e enquanto isto acontecer ainda vamos enumerar os nossos casos de sucesso nos dedos. De qualquer maneira… If you think education is expensive, try ignorance.