O que caracteriza um produto inovador? O que transforma uma simples invenção em inovação? Foi para falar sobre isso que Thiago Sarinho, Epecialista em desenvolvimento de ideias, palestrou durante a Campus Party na última semana de janeiro em São Paulo.
Há pouco tempo, as indústrias que conhecemos se transformaram completamente. Por exemplo, é raro encontrar quem ainda faça compras de passagens de avião em agências de viagem e grande parte dos consumidores agora prefere a versão digital de um livro ou um CD. A forma como a tecnologia impactou os mercados turístico e automobilístico fez com que a disputa por preços ficasse cada vez mais acirrada, aumentando a facilidade de compra do usuário. “O cliente hoje tem mais importância porque agora ele tem voz”, diz Thiago.
Com a realidade digital em que vivemos, as distâncias estão cada vez mais curtas, o mundo inteiro está conectado entre si e a produção de informação cresce exponencialmente a cada dia. O que faz essas informações terem valor e o que pode fazer com que elas se transformem em inovação está ligado diretamente ao impacto que ela terá nas relações humanas e na nossa forma de propagar conhecimento.
Um exemplo claro de que a usabilidade das tecnologias faz com que elas sejam ou não inovação são as videoconferências. “Até no desenho Os Jetsons, que começou a ser exibido nos anos 60, previa-se que a teleconferência revolucionaria a comunicação”, afirma Thiago. “A gente assistia ao desenho e pensava “poxa, como eu queria ter isso na minha casa’”, diz. Hoje que esta tecnologia é uma realidade ao alcance de qualquer pessoa, ela tem apenas 6% de adesão. Se é uma tecnologia revolucionária, então por que tem tão pouca aderência? Segundo Thiago, a videoconferência não funciona porque ela ignorou o fator ser humano. “A pessoa quer ter privacidade no que quer que ela faça, e esta tecnologia tira do usuário essa privacidade”.
Então, quais são os fatores que devem ser levados em conta para separar o que é só uma invenção de algo inovador? Primeiramente, o grau de utilidade deve necessariamente levar em conta o ser humano. “Se a utilidade não se relacionar comigo, eu não tenho motivo pra usar”, explica Thiago. A inovação deve levar em conta a realidade em que irá se inserir, as necessidades específicas do público e o cotidiano deles. “Por que no Brasil se compra mais tostadeiras que torradeiras, enquanto nos EUA é ao contrário? Porque nosso café da manhã não é torrada com geleia, como o deles; o nosso está mais para misto quente”.
O grau de adesão também tem a ver com quão relevante é sua solução, por exemplo, o cinema 3D. Embora tenha público, esta tecnologia não mudou a nossa forma de ver filmes, por isso quase ninguém vai ao cinema apenas para assistir longas-metragens em três dimensões, embora a indústria cinematográfica esteja tentando pela quarta vez emplacar de vez a novidade. Outro exemplo de relevância são os buscadores da internet. Nomes como Cadê?, Aol e Alta Vista foram todos substituídos pelo Google, que criou um sistema altamente diferente do que já existia.
Meu produto é inovador?
Para evitar o “produtocentristmo” (acreditar que sua solução vai mudar o mundo, quando na verdade ele não apresenta relevância alguma), Thiago diz que é importante o empreendedor se fazer uma pergunta: Por que o meu produto é inovador? Não adianta ser novidade se não tiver adesão e uso. Se não impactar de verdade, é novidade e não inovação. “Ser pioneiro não é ser inovador”, explica, citando o exemplo dos MP3 Players. “Eles vieram primeiro, mas os que revolucionaram de verdade o mercado foram os iPods, da Apple”.
Depois de questionar se o seu produto pode ou não mudar o mercado, deve-se levar em conta que uma ideia sem execução não é nada. “Ideias não são inovadoras, ideias são só palpites”, diz Thiago. O Google Plus, por exemplo, foi apenas um palpite do Google. “A rede social tinha um conceito bacana, diferente das outras que a gente conhece, mas não teve quase nada de adesão. O que foi validado de verdade foi o Facebook”. A sua ideia só vai demonstrar algum valor, por melhor que ela pareça ser, se for executada e validada.
Outra coisa que é comumente relacionada com inovação é o “pensar fora da caixa”. Thiago diz que isso não tem necessariamente a ver com o conceito de inovação. “Dá muito bem para inovar pela essência, por dentro da caixa. Até porque, quando você sai dessa tal caixa, você cai dentro de outra, que pode ser um pouco maior, mas ainda está dentro dos seus limites”, diz. O Google Wave, por exemplo, foi uma ideia “fora da caixa” do Google para revolucionar a forma como nós utilizamos o email. Mas não deu certo, o que funcionou e se tornou relevante foi o GMail, email tradicional do Google.
Para sintetizar, Thiago diz que “tecnologia é commodity; inovação é como isso recebe significado”. “Uma invenção é algo novo, mas quando eu converto essa ideia em algo de valor para gerar solução, eu estou me aproximando da inovação”, completa.
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