* Por Sérgio Roque
No começo deste ano uma cliente e amiga de coração que estava com a vida pessoal, familiar e profissional em um verdadeiro pandemônio me fez a seguinte pergunta: será que isso um dia vai acabar?
Eu, talvez pelo meu otimismo quase irresponsável, talvez pelo fato de acreditar que depois do equinócio viveríamos um ano em que o sol iluminaria nossas vidas ou talvez, mais provavelmente, juntamente com as duas primeiras opções, saber que tudo passa e hoje em dia as coisas passam ainda mais rapidamente, emendei uma resposta:
Depois de março tudo vai melhorar. E desde então ela me pergunta: ”Quando vai melhorar mesmo? ”
Os negócios já estavam esperando o carnaval passar. Ele passou, começou a melhorar.
E aí veio o coronavírus. Minha amiga tem uma agência de viagens, além de não vender nada, ainda tem pepinos de monte com cancelamentos – Lavando a louça cheguei até a pensar em delivery para problemas durante ou pós-coronavírus:
– O que o senhor deseja? – Atende minha recém-contratada atendente imaginária, digamos que se chama Rita Lovely, em homenagem aos Beatles, com o bloco (olha o otimismo) de folhas de produtos e serviços já escritos, com aqueles quadradinhos para ticar dentro caso o cliente queira aquele produto e espaço para a quantidade.
– Eu gostaria de algo para liderança. Uns oito programas.
– O senhor também?
– Não. Eu sou um excelente líder. São para os meus diretores e gerentes mesmo.
– Certo. O que mais?
– O que você tem para resolver problemas de relacionamento e comunicação?
– hummm deixa eu ver. Temos muita coisa. São poucos casos ou generalizado?
– São poucos, oito times.
– O Senhor quer dizer todos seus oito times?
– Hum. Bem, sim.
– Quanto o Senhor acha que afeta a comunicação e produtividade?
– Veja bem: não tenho a mínima ideia, mas deve afetar muito.
– Ok, vamos lá. Que tal um programa completo de autoconhecimento, plano de desenvolvimento para todos e comunicação assertiva?
– Puxa não vai ficar muito caro?
– Eu mando um Gestão de Tempo de brinde para o senhor. Não me pediu, mas sei que também deve precisar.
– Fechado. Pode fechar a conta. Quando chega em casa?
– Em três dias o motoboy “vai estar entregando” tudo. Escuta, o senhor não precisa de nada para casa? Como está o relacionamento com a esposa depois de duas semanas juntos confinados? Nós lhe damos um bom desconto.
Acordei com minha mulher dizendo – Sabe que acho que um dia ainda vamos sentir saudades destes dias.
Senti uma espetada. É verdade. Talvez não saudades. Pois é claro que não sentiremos saudades da dor, do medo, da incerteza, das perdas, das tragédias.
Mas também acredito que estamos vivendo o nascimento de uma nova ordem social e econômica mundial. Muito provavelmente as coisas não serão mais como antes.
Sei que hoje é impossível enxergar como o mundo será melhor depois do que muitos estão passando. Para aqueles que perderam alguém o mundo nunca mais será como antes. Em muitos lugares e em muitas famílias este mundo melhor será o simples retorno ao que era antes.
A esperança é a última que morre porque é a última a nascer. A esperança só nasce e cresce em nossos corações quando a incerteza do futuro se contrapõe a uma promessa certa e verdadeira de um futuro melhor. Na maioria dos casos extremos não temos promessa alguma nos sendo apresentada.
A promessa quem cria sempre somos nós. Todos os dias pessoas morrem, mas não são todos os dias que vemos os Homens se unirem para lutar contra um mal comum. Muito menos ainda quando vemos alguém dando a sua vida ou se arriscando pela de outros. Pessoas doando o que podem e fazendo o que não deveriam para minimizar o sofrimento dos outros.
São poucas pessoas que me fazem sentir que “servir” é o mais importante para nossa felicidade e a de todos. Hoje leio esta palavra em meio a várias notícias e mensagens durante um confinamento que não tenho do que reclamar.
Desde a mais simples experiência de mudar totalmente a rotina e viver com os filhos estudando dentro de casa, ter que cozinhar, lavar louça e roupas e limpar a casa até as mais incomuns como ter que tomar cuidados para sair e entrar em casa pela lavanderia cheio de álcool gel e correr para lavar as mãos, jogar uno às cinco da tarde com a filha, começar a gravar minhas músicas tanto tempo paradas, ficar horas com minha mulher cozinhando pratos cada vez mais deliciosos e belos.
Então vivamos e lutemos. Cada um conforme sua condição. Nós já vivemos o extremo das guerras, da peste e da fome e sobrevivemos e sempre criamos mundos melhores depois. Por que não ser otimista e pensar que teremos um mundo menos violento, mais saudável e mais justo depois da crise do coronavírus passar?
Pessoas que não se conhecem estão se ajudando. Muitos aproveitam o tempo que tem agora para meditar e orar várias vezes ao dia. Outros simplesmente para ficar mais com os filhos e incutir neles valores nunca passados.
Diminua seu medo. Procure as notícias em canais oficiais, isentos ou internacionais. Não se deixe impactar com informações nas redes sociais e confira se é verdade antes de mandar para frente. Este não foi o primeiro e nem será o último vírus, mas nós agora estamos aprendendo a buscar soluções juntos.
Para viver dias como hoje, busquemos a simplicidade e a beleza. Nos atos e diálogos. Criemos uma rotina com algum exercício físico, contato social online e espiritualidade.
Estude algo que goste. Aproveite para se conhecer mais profundamente.
Procure a cura da alma. Ore. Tenha esperança.
Viva um dia de cada vez.
Sergio Eduardo Roque é coach executivo e de vida com foco em processos de autoconhecimento na SerOQue Desenvolvendo Pessoas. Com formação em engenharia (FAAP) e marketing (ESPM) atua há mais de 25 anos no mercado como executivo e empreendedor.