Imagine a cena. O brasileiro decide ser um empreendedor inovador, monta sua piscininha de plástico na badalada Costa Oeste Brasileira, com vista para o Oceano Azul em um lado e de todo Vale do Silêncio em outro.
Ele arremanga a camiseta, toda estampada de Big Data, e joga com toda graça o seu anzol novinho recheado com a sua minhoquinha vitaminada, mas só ouve os ecos do bichinho coitado que está aos gritos, balançando no Ralo da Web Semântica, no Vão da Nuvem, no Abismo dos Cookies Deletados.
O empreendedor esbraveja “que porra é essa?”. De repente a minhoquinha responde com a voz do Google Translate: “você tomou um Não do Deserto do Real”.
Cair na real só acontece com quem se acha acima da realidade, e esta é toda gravidade da Lei de Newton. Pé no chão é pra quem tem, não pra quem quer. Cabeça nas nuvens é pra quem pode, e todo mundo pode, mas não se recomenda pra quem não tem o pé no chão. A não ser que seja a última das últimas opções. Mas isso nunca se saberá quando é. Fato é que a geolocalização ainda não tem um equivalente no mundo da estratégia, da tática e da operação, então todo mundo que quer se sentir mais vivo do que numa Caixa do Tempo (daquelas onde só se fica amargando na pasmaceira em horário regular) deve ir ao mesmo tempo construindo a estrada, caminhando e desenhando o mapa. Map the gap, walk the talk, build the guild and the gild, lead the feed. Como já dizia o poeta: é foda, mas dá.
Nessas horas de link quebrado, de aguardar eternamente pela recompensa do projeto que você crowdfundeou, de twittar feito uma tiete a página de “em breve” do seu amigo, de cair a conexão, de perder o vôo, é que se deve lembrar: perco tudo mas não perco a lição – e caso perca, ao menos guardo a história pra contar. Afinal, tudo vale a pena quando a biografia não é pequena, mas vaidade e ego é coisa de celebridade e isso ninguém admite querer pra si.
Então pega o pen drive que sobrou e troca por uma pinga no Bar do Fim do Túnel, pois hoje tem jogo ao vivo. Ah não, já acabou! Perdemos? Que merda, só levo azar. Aguarde, depois do intervalo tem a estréia do programa novo daquele videologger bacana, o MC Ted.
Daí toca a musiquinha, passa isso e, quando termina, você seca a lágrima e vai dar o último gole, mas no seu copo só sobrou a minhoquinha. E agora já era uma vez uma minhoquinha e lá se vai um tempo de vagas magras e minhoquinhas gordinhas suculentas que iam bem acompanhando whiskey com energético. Daqui pra frente, você renasce das cinzas como toilet paper entrepreneur.