O TC Disrupt já acabou, não estou mais em Nova York, mas continuamos publicando a série especial de matérias mostrando como é o ecossistema de startups nesta cidade.
Fiz uma visita à renomada aceleradora Techstars, que foi criada em Boulder por David Cohen e Brad Feld (veja nossa matéria sobre a passagem de Feld pelo Rio de Janeiro) e já abriu unidades em Boston, Chicago, Seattle, London, Cloud in San Antonio e Nova York. Foi na Techstars que nasceram SendGrid, OnSwipe, IntenseDebare, TimeHop, entre mais de cem outras. Dê uma olhada nas 36 startups que já foram aceleradas na Techstars NY. Se você tem interesse em participar, as unidades em Seattle e em Londres estão aceitando inscrições até o final do mês.
Quem me levou na unidade Nova York foi o Rafael Balbi, diretor de operações responsável pela expansão da Lean Startup Machine (LSM), startup que também está sendo acelerada lá. “A TechStars fica em um lugar que apenas os empreendedores participantes e os mentores sabem, para manter um clima de comunidade e de concentração”, me explicou já no caminho, a bordo de um Lincoln preto chamado via Über. Mas isso não torna solitária a vida na aceleradora: só em Nova York são mais de 160 mentores oficiais da TechStars (basicamente investidores e fundadores de diversas startups), fora as equipes das 11 startups que participam deste processo de aceleração.
O ambiente é suficientemente simples e suficientemente descolado, com uma arquitetura que não difere tanto assim de uma lan house ou coworking. Diversas bancadas, basicamente uma startup de cada lado, com seus founders e equipes ralando. Uma cozinha equipada parece ser um dos cantinhos mais frequentados – para botar a conversa e a cafeína em dia.
Logo encontrei Eugene Chung, diretor administrativo da TechStars. Discreto, não quis que eu gravasse vídeo na aceleradora, mas falou sem enrolação. “Somos muito seletos. Nesta terceira chamada, 1.700 startups de 66 países pediram para ser acelerados por nós, mas selecionamos apenas 11. Isso dá uma taxa de aceitação de 0,6%, bem mais difícil do que qualquer universidade da Ivy League”, posiciona. “Nosso primeiro critério é a qualidade da equipe. Todos fundadores que entram são hustlers, excelentes executores. Depois, também analisamos o tamanho do mercado, e aí o modelo de negócio”.
Ao ingressar na TechStars, a empresa cede uma participação societária e recebe 18 mil dólares de capital semente mais, caso queira, 100 mil dólares em débito conversível (proveniente de 75 investidores ligados à rede). Das startups que já participaram, 80% estão ativas, 10% foram adquiridas e 10% “falharam” (foram descontinuadas). Em média, as participantes conseguem levantar 1,6 milhão de dólares após completarem a aceleração e apresentarem seus novos produtos ao mercado.
“A ideia na Techstars é que durante três meses de aceleração a gente comprima dois a três anos de vida da empresa. Toda semana as startups mudam, porque nossos mentores as ajudam a melhorar seus produtos e a descobrir como melhor desenvolver seus negócios”, explica Eugene, explicando por que seu programa, baseado no acesso aos mentores, é tão disputado. Antes de assumir a Techstars em Nova York, Eugene tinha trabalhado no banco Morgan Stanley, na investidora New Enterprise Associates (considerada a maior gestora de venture capital do mundo, com mais 175 IPOs e 290 fusões e aquisições realizados) e na produtora de filmes Pixar.
O próprio Rafel, da LSM, conta que eles mesmos estão em um momento de definições. “Iniciamos como uma série de workshops de conhecimento aplicado, aí consolidamos uma metodologia própria, transformamos em um canvas, daí botamos o canvas em um aplicativo, aí criamos um aplicativo diferente, com outra abordagem, mas ainda precisamos ver algumas coisas”, comenta. A LSM tem 23 pessoas em 40 cidades ao redor do mundo – onde 5 mil pessoas já frequentaram seus workshops – e tem como visão “ajudar empresas a quantificar a inovação” por meio de um “dashboard com métricas internas e análises”. Para quem não lembra, a LSM já realizou algumas edições de seu workshop no Brasil – as mais recentes aos cuidados da Supernova Labs.
Brasil
Até o momento, nenhuma startup brasileira foi acelerada pela Techstars. “Selecionamos empreendedores de qualquer lugar, apenas ainda não foi a vez de ninguém do Brasil. Aliás, eu ouvi um pouquinho sobre o que acontece lá, mas só conheci mesmo o carnaval da Bahia e do Rio”, conta Eugene. Entretanto, a Techstars NY está acelerando neste momento a sua primeira startup criada na América Latina – só que isto é assunto para uma próxima matéria.