Quando o Buscapé adquiriu a e-Bit, a empresa começou a se fragmentar. A princípio, fisicamente, porque eram oito ou nove salinhas espalhadas por diversos andares de um prédio na Vila Olímpia, para, em seguida, se fragmentar metaforicamente numa verdadeira Torre de Babel. “Depois da aquisição, decidi circular por esses oito ou nove pedacinhos. No primeiro dia, fiquei branco. No segundo, pior ainda. No terceiro, achei que tudo tinha se acabado. Ninguém falava a mesma língua.”
Esse foi o maior erro cometido por Romero Rodrigues, o cofundador do Buscapé, site de busca e comparação de preços, e que foi apontado por ele mesmo na tarde desta terça-feira, 14 de agosto. O idealizador do serviço contou a história em bate-papo ao vivo organizado pela Endeavor e cujo mediador foi Leandro Herrera, diretor de Marketing e Comunicação da organização empreendedora.
“Eram tantos micropoderes, pequenos feudos, cada qual com a sua linguagem. Vocês veem Game of Thrones? Eu era o anão perdido em meio àqueles pequenos reis brigando pelo trono”, comparou. Para resolver a situação, o Buscapé mudou de sede: um lugar amplo, sem paredes, mais unificado na forma e no conceito. “Criamos ferramentas para difundir a cultura, porque essa transmissão de valores é muito importante”, disse.
Se no começo eram quatro sócios com computadores pessoais doados para a empresa, a companhia hoje tem 1.200 funcionários e uma nova startup sendo gerida lá dentro: o aplicativo do Buscapé – para o qual, garante Rodrigues, há uma pesquisa profunda com usuários. “Eu mesmo ligo e converso com eles. Entender as necessidades das pessoas é importante quando se tem um produto social.”
Quanto a isso, aliás, ele é taxativo: “Sou adepto do engajamento social. Entre 10 mil usuários constantes e 1 milhão que entram sem dar continuidade, o primeiro grupo é o melhor, porque se cria uma comunidade com laços sociais. Crescer sem engajamento de massa em produtos sociais é inútil”.
Cerca de mil pessoas circularam no bate-papo, que teve duração de uma hora, aproximadamente. Assista à gravação e/ou leia o resumo de alguns temas abordados por Romero.
Startup
“Quanto mais startup, menos pensamento. Você precisa ir para a rua; quanto mais você põe a mão na massa, mais você sabe sobre o perfil do seu cliente. É uma forma de brainstorm para você ir testando o que dá certo ou errado com o seu público. O melhor sentido, nesse caso, é o tato: entender as pessoas é o ponto principal para começar um empreendimento. Quanto menor você é mais você tem que ir para a rua. O planejamento vira somente uma ferramenta de gestão. Se existe uma caixa de impossível, abra essa caixa e a transforme.”
Métricas
“Existem métricas de vaidade e métricas de consolação, né? [risos] O fundador, às vezes, se distrai e se seduz com isso. A métrica mais importante no limite vai ser o profit. Mas é importante pensar muito bem nas métricas porque é atrás delas que as pessoas vão. Uma métrica apenas é ruim, mas muito número é pior ainda. Defina poucas métricas que sejam importantes para o seu negócio. Estabeleça algumas, em três meses a um ano você muda.”
Investidores
“Quanto maior o risco, menor a chance de sucesso com o investidor, mesmo que o sucesso esteja no futuro. (…) E se você não consegue nem reunir um time apaixonado pelo projeto, tem alguma coisa errada. Se o sonho não é suficiente para fazer você desistir de uma carreira e mudar o mundo, seu sonho não é grande o suficiente. (…) O recurso mais importante em uma startup é tempo, não é dinheiro. A administração do tempo é fundamental.”
Mentores
“Questionamentos são muito importantes. Muitas vezes o negócio cresce com quatro cinco anos e começa a se criar dogmas – ‘porque sempre foi assim e ponto’. Então eu acho que você ter mentores em volta é bom para perguntar e para provocá-los a perguntarem. As melhores reflexões foram respondendo perguntas que geram negócio, criatividade, produto.
Mentores podem ajudar a melhorar certas coisas, como lidar com gente, a traçar estratégias de mercado e de produto. Todo mundo erra – e, quanto mais preparado você estiver, melhor vai saber lidar com o erro. Só não se capacita quem for preguiçoso ou arrogante. Tentar trazer mentores que possam criar valores para o seu negócio, pessoas que vão te complementar.”
Talentos
“As pessoas mais talentosas que eu conheço não entram e ficam num projeto necessariamente por dinheiro. O que atrai talentos é oferecer autonomia. Mas é complicado porque, quando você dá autonomia, pede para que elas virem à direita e elas se recusam – podem cumprir depois e virar melhor que o Senna, mas elas seguem o que quiserem. Pessoas talentosas estão presentes por missão, trabalho e essência. É o que liga as pessoas aqui no Buscapé.”
Indicação da casa
E, se você chegou até aqui, leia esta entrevista exclusiva em que Romero fala a “receita” para o sucesso do Buscapé, e assista também a este outro vídeo em que Romero fala dos primeiros dias da companhia.