Há alguns dias, encontrei o belga Thierry Larose para um café onde conheceríamos melhor as atividades um do outro. Thierry tem experiência bancária na área de investimentos e palestrou no evento internacional Brazil Means Business, na Holanda.
Atualmente, Thierry é moderador dos Online M&A Deal Books (guias internacionais de empresas para fusões e aquisições) é filho de brasileira e vem seguido ao Brasil.
Nessas vindas, passou a pesquisar e prospectar o mercado brasileiro de startups com a sua Inbelflu Investimentos, visando a promover investimentos e negócios. Entre outros assuntos, conversamos sobre as diferenças culturais dos ambientes de negócios e startups no Brasil, comparando aos EUA e à Europa.
Para o investidor, a falta de visibilidade e convergência das opções de negócios mantém o Brasil aquém do que poderia gerar. O artigo abaixo, submetido por Larose para publicação no Startupi, é uma introdução a um marketplace de empresas que ele colocou à disposição das startups brasileiras e com o qual o Startupi passa a colaborar.
Por que fundos de private equity, fusões e aquisições ainda estão imunes à tecnologia do século 21?
Vamos iniciar com uma alegoria. Imagine que você está em uma Máquina do Tempo e volta a 1990, quatro anos antes de a Embratel começar a prover acesso à Internet para uma amostra de usuários não-acadêmicos, com objetivos experimentais. Na época, a maioria das pessoas nas ruas do Rio de Janeiro ou São Paulo não sabiam que a Arpanet tinha deixado de existir e que dali a dois anos a World Wide Web seria inventada.
Ayrton Senna tinha vencido seu segundo mundial de F1, o Brasil tinha sido eliminado pela Argentina na Copa da Itália, Fernando Collor tinha a recém sido eleito o 32o presidente do Brasil, a inflação subiu aos 2,947% p.a. (urgh!) e o país tinha voltado a usar o Cruzeiro como moeda.
Má sorte: sua Máquina do Tempo estragou durante a viagem e vai levar ao menos alguns meses até ser consertada para trazer você de volta a 2010! Como você não consegue contatar seus amigos e familiares (cuidado com a fratura espaço-temporal!), você precisa ser pragmático e encontrar um trabalho, um carro e um local para ficar enquanto isso.
Não há muitas opções disponíveis. O único jeito de fazer sua busca é comprar uns jornais e procurar nas páginas de classificados. Ok, tudo bem, isso é melhor do que nada, com certeza – mas muito ineficiente comparado com o que você poderia alcançar com um acesso à Internet… Hoje em dia, a primeira coisa que você faz quando quer comprar ou vender algo – seja serviço ou produto de qualquer valor – é usar seu motor de buscas favorito e navegar até encontrar o marketplace (mercado) que satisfaz suas necessidades.
Parece óbvio? Bem, então por que essa revolução ainda não chegou no mundo de private equity, fusões e aquisições? Hoje, o mercado de finanças pequenas e de médio mercado está atrasado na curva tecnológica. Se você quiser comprar ou vender um ativo financeiro que não está listado, ou um negócio privado, você não consegue nem ao menos folhear nas páginas dos classificados de jornal para encontrar. Sua única opção é estar bem conectado com as pessoas na hora certa e no local certo, algo que infelizmente não está ao alcance da maioria das pessoas.
Há ao menos duas razões para isso:
- a mais óbvia é o mito da confidencialidade. Algumas pessoas pensam que transacionar um negócio ou ativo, ou encontrar um parceiro comercial ou capitalista somente pode ser discutido dentro de um bunker ou abrigo nuclear, para ter certeza de que nenhuma informação vazaria para o domínio público. Sabe o que mais? Elas estão certas em muitos casos, certamente nos estágios de negociação em que a informação precisa estar sob total controle, por razões competitivas a princípio. Mas, se quando o objetivo é transacionar o mais rápido possível pelo preço mais justo, a transparência é sua amiga, e a confidencialidade total é um fator de ineficiência e uma restrição aos seus esforços.
- a outra razão é que vários intermediários ganham a vida com a ineficiência e opacidade do mercado. Às vezes, o único valor agregado deles é simplesmente juntar em torno de uma mesa pessoas que não se conhecem. Nada errado com isso, e o serviço realmente vale uma comissão, mas aí, novamente, você não tem garantia de encontrar os parceiros e contrapartidas mais adequados – e fechar o acordo com um preço mais justo.
Nós não precisamos reinventar a roda para incrementar as coisas. A tecnologia está aí, aguardando que a usemos para criar locais de mercado que ofereçam transparência ao mercado, tanto em nível doméstico como além-fronteiras. Não estamos falando de criar a Web 5.0 ou de organizar uma missão espacial pela Via Láctea. Precisamos apenas aplicar conceitos simples de networking e B2C ou B2B a um mundo onde a publicidade e a transparência ainda são consideradas – muitas vezes indevidamente – como um problema, ao invés de uma solução.
Há algumas tentativas pioneiras de se preencher essa laguna. Uma delas é o Online M&A e eu estou animado de fazer parte dele – mas isso é só o começo, então não perca o barco!
Thierry Larose”