Caros: é bom estar de volta ao Startupi depois da última semana. Eu estive por seis dias em San Francisco, na California, experimentando um pouco daquele ambiente em uma visita que me lembrou do livro “The Nature of the Firm“, de 1937, do economista britânico Ronald Coase.
Em seu livro, Coase falou que as grandes empresas eram necessárias porque os “custos de transação” eram grandes demais para permitir que as pessoas pudessem negociar livremente insumos e força de trabalho, formar preços, analisar desempenho e preservar competências distintivas (segredos industriais). Por exemplo, para o autor, ganhador do Prêmio Nobel de 1991, é muito mais barato para uma organização ter um quadro fixo de empregados que possam desempenhar múltiplas funções do que ter sempre que procurar por alguém para resolver alguma determinada tarefa. Ter sempre que renegociar e buscar novas formas, para o autor, aumenta os custos de transação.
Isto é o que não se vá no Vale do Silício. O ambiente é uma constante recombinação de recursos, no mais Schumpeteriano dos sentidos (veja um post meu de um tempo atrás). Há uma massa de pessoas e instituições buscando por inovação, entre elas incubadoras, fundos de venture capital, pequenas, médias e grandes empresas e governos preparados para se organizarem de novas formas para fazer uma ideia acontecer.
A própria visita, em si, já foi um passo para mostrar como alguém pode criar um novo modelo de negócio. Eu viajei para acompanhar a programação elaborada pela empreendedora Bedy Yang, ex-aluna da FGV e criadora da empresa Brazil Innovators. Ela enxergou que, ao apresentar a empreendedores brasileiros o ambiente do Vale do Silício, ela poderia aumentar a competitividade destas empresas e que, ao apresentar brasileiros empreendedores no Vale o Silício, poderiam surgir oportunidades de negócios. Confuso o meu conceito? É assim: brasileiros vão lá, aprendem a ser competitivos, ficam mais propensos a receber venture capital, e criam startups de alto nível para o país.
Nesta viagem estavam os empreendedores Tahiana D’Egmont (ex- Mentez), Augusto Camargo (aTag e Makesys), Flavio Pripas (www.bymk.com.br), Marco Fisbhen (Descomplica), José Rodolpho Bernardoni e Leonardo Lenz (Ewiks.com), Igor Santiago (iSystems), André Paraense (MobWise), Marco Vanossi (Pé2), e da Ludmilla Figueiredo (da Endeavor, que estava representando a ResultsOn).
Nós estivemos em algumas empresas como a Ideo, o Google (alguém conhece?), o Streetline, a IBM Ventures e a I/O Ventures. No lado da educação nós visitamos a Singularity University e no lado governamental estivemos no Consulado Brasileiro de San Francisco. Os empreendedores também participaram de alguns eventos.
Nas empresas, foi ótimo ver o ambiente que nós sempre ouvimos falar e não acreditamos que no dia-a-dia seja mesmo assim. Todas elas vivem inovação, dão liberdade para os empregados, recebem pessoas (e cachorros) e estão dispostas a mostrar seus conceitos e como trabalham para os visitantes (se você fuçar no meu Facebook vai encontrar fotos minhas andando nas bicicletas espalhadas pelo Google).
Na Singularity University a missão é “reunir, educar e inspirar líderes que se esforçam para entender e facilitar o desenvolvimento, de forma exponencial, de tecnologias que possam abordar os grandes desafios da humanidade”. É um conceito bastante interessante, no qual eles buscam selecionar pessoas que realmente possam gerar grande impacto em suas comunidades e as colocam para aprender com nomes importantes da academia, de áreas técnicas e do mundo dos negócios. Em pouco tempo de existência a escola tem conseguido bons resultados. Seus alunos estão ocupando altos cargos ou empreendendo.
No Consulado Brasileiro os empreendedores tiveram a oportunidade de fazer o pitch dos seus negócios para brasileiros que vivem na região e para investidores locais. Esta experiência serviu para deixar latente como o governo brasileiro está despreparado para ajudar na inserção internacional das nossas empresas. O evento aconteceu e teve brilho pelo empenho do Brazil Innovators e da Endeavor local. Sem isso, nossas autoridades não teriam feito nada, pois não sabem como fazer. O que ficou aparente é que eles não tem conhecimento em como lidar com startups, venture capital e o ambiente que cerca o empreendedorismo. E eles são responsáveis pela área do Vale do Silício! Valeria a pena dar uma olhada no que os governos de outros países, como a República Checa e a Irlanda estão fazendo. Estas nações tem escritórios que buscam colocar seus empreendedores em contato com o ambiente da região e com investidores.
Para mim, a última conversa, do último dia da visita, foi a mais proveitosa. Nós sentamos em um grande escritório de advocacia que cedeu seu espaço para conversarmos com o empreendedor Ryan Merket, que fundou, a cerca de nove meses, a empresa appbistro. A appbistro possui uma plataforma que permite que desenvolvedores criem aplicativos e páginas para Facebook, com o objetivo de promover empresas. Até aí, nada de mais. É só mais uma inovação.
O interessante é ver como a carreira de empreendedor serial e os relacionamentos do Ryan fizeram com que ele pudesse ter sucesso em levantar capital. Ele trabalhou no próprio Facebook, criou a Ping.fm e desenvolveu aplicativos para várias empresas e nomes famosos. Em menos de 6 meses, sem ter um modelo de negócio definido para o appbistro, ele conseguiu aproximadamente US$ 600 mil em dinheiro de investidores (Sand Hill Angels, 500 Startups, Alfred Lin, Zelkova Ventures, Seraph Group, Thomas McInerney, e outros) que acreditaram nele, sem um plano de negócios e operando uma empresa com US$ 5 mil de receita por mês, que conta com o trabalho de 8 pessoas (sem contrato de trabalho) espalhadas ao redor do mundo (Polônia e 3 cidades do EUA).
Ainda não dá para saber se a empresa vai dar certo, mas isso é uma prova de que um ambiente que acredite em pessoas com capacidade empreendedora, em que haja abundância de capital inteligente, de aceleradoras de negócios, consultores, pessoas com capacidades técnicas e incentivos governamentais é fundamental para que possam aparecer os próximos Yahoos, Googles, Facebooks e outras empresas que tem mostrado que as formas tradicionais das organizações do século XX não são as únicas formas de se criar sucesso no século XXI. Durma com um barulho desses, Brasil!
P.S.1: A minha viagem foi patrocinada pela empresa Makesys, do empreendedor Augusto Camargo.
P.S.2: Se você achar que vale a pena, tem bastante coisa no meu Twitter entre os dias 25/10 e 30/10 sobre esta viagem.
P.S.3: Este artigo reflete apenas a opinião do autor. Não há qualquer relação com a equipe organizadora da viagem.