Como hoje acontece no Brasil mais um evento de desenvolvedores de aplicativos para iPhone, resolvi entrevistar um profissional que é fera no assunto, para saber como as coisas estão. Com vocês, Rafael Fischmann, editor da MacMagazine.
Quando os desenvolvedores locais começaram a se aventurar no iPhone?
Antes mesmo de a Apple abrir o Developer Program e lançar a App Store, um desenvolvedor brasileiro já tinha planos de lançar um app de sua autoria por aqui. Poucos dias depois, a Apple finalmente oficializou as duas coisas: iTunes Apple Store e Developer Program.
A Gol Mobile foi a primeira empresa a entrar para o iPhone Developer Program no Brasil. Naquela época, a FingerTips também estava se preparando para isso. Ou seja, estamos falando de meados para o final de agosto de 2008, há pouco mais de um ano.
Existem diferenças entre o mercado daqui e o internacional?
Acho que a principal é a ausência da categoria Jogos na App Store brasileira. Para uma plataforma bastante influenciada pelo mercado de games, é uma falta absurda. No geral, ainda vejo muitos desenvolvedores iniciantes, alguns até cobrando por coisas sem sentido, querendo obter retorno financeiro antes da hora.
Vários manjam muito de programação, mas não entendem bulhufas de design e não tem ninguém para trabalhar em parceira, ou não tem grana para investir num profissional. Há suas exceções, é claro, e é ótimo ver a evolução dos desenvolvedores mais veteranos.
Os aplicativos feitos no Brasil costumam ser originais ou versões em português de outros existentes?
Isso incrivelmente não é muito comum por aqui, vi bem poucos casos de apps brasileiros criticados por já existirem versões internacionais e de preferência, melhores. Acho que o mercado de tradução e/ou adaptação de alguns títulos bacanas para o público nacional também é bastante válido, mas é outra coisa ainda pouco explorada.
No geral, o que mais pega negativamente é a falta de originalidade no sentido de muitos desenvolvedores optarem por coisas mais simples de se criar, que consequentemente acabam sendo óbvias demais em sua maioria.
Há casos bem-sucedidos de cobrança para uso dos aplicativos?
Como a loja e o mercado ainda são muitos novos, essas coisas ainda estão se definindo. Há muitas experimentações em andamento, e uma discrepância grande de preços entre desenvolvedores é maior ainda quando comparamos programadores independentes com grandes empresas que já publicam títulos na plataforma.
Tá cheio de app gratuito muito interessante e bem desenvolvido, enquanto tem uns pagos que não dá pra acreditar na cara-de-pau do desenvolvedor. Um preço correto, justo reflete-se no resultado e constância das vendas, é claro.
Estamos falando de um mercado com quantos usuários?
7,4 milhões de iPhones foram vendidos só no último trimestre. No mesmo período, foram mais de 10 milhões de iPods, boa parte deles iPods touch, que também rodam o iPhone OS. Somados, eles já passam de 50 milhões vendidos em todo o mundo.
A iPhone App Store superou 2 bilhões de downloads, já tem mais de 85 mil apps disponíveis e conta com 125 mil desenvolvedores inscritos. A curva de crescimento disso tudo continua bastante acentuada.
Quanto dinheiro este mercado todo movimenta?
A Apple não divulga esses números, mas estima-se que somente nos últimos 12 meses ela tenha lucrado US$60 milhões com a App Store. Outra pesquisa prevê entre US$60 e US$110 milhões por trimestre.
Há entraves ao desenvolvimento deste mercado?
A Apple é bem restrita no kit de desenvolvimento de software (SDK) do iPhone OS, apesar de já o ter expandido bastante nos últimos meses, lançando novas APIs a cada nova versão do sistema.
No geral, ela não permite nada que altere o SO, rode em plano de fundo ou vá contra suas regras puritanas quanto à pornografia, violência, etc.
Qual é sua opinião pessoal e profissional, enquanto especialista em tecnologias Apple, sobre o mercado brasileiro de aplicativos para iPhone?
O mercado é fantástico e muito promissor, considerando o tamanho e alcance do seu público-alvo e do fato de que a maioria das compras são feitas por impulso na App Store (estamos falando de títulos muito, mas muito baratos e com exceções, é claro).
Ganha-se, portanto, na quantidade. O desafio é se destacar, chamar a atenção em meio aos milhares de outros títulos; esse é o grande X da questão.
Quais são seus aplicativos favoritos?
BackGammon, DrawRace, Tap Tap Revenge, Convertbot, Fling, Sygic Mobile Maps Brazil, Flight Control, Senha, TableTennis, Skype, Shazam – sem ordem específica.
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