Pude testemunhar esta semana o encontro nacional dos gestores de MICs (Microsoft Innovation Centers) espalhados pelo Brasil, que aconteceu no Centro Universitário Senac Santo Amaro (SP). Durante dois dias, os gestores dos centros de inovação (que fazem parcerias com universidades e institutos de ensino e pesquisa) participaram de um workshop internacional com Malcolm Fraser (CEO do IISEIE, International Institute for Software Economics, Innovation and Entrepreneurship).
Na ocasião, tive uma conversa muito interessante com a gestora nacional do programa Microsoft Startups On Line (e da maioria dos MICs no Brasil), Silvia Valadares (foto), e com o diretor de mercados emergentes, líder mundial de Local Software Economy da Microsoft, Juliano Tubino (foto). No terceiro dia, fui convidado e apresentei um workshop sobre como usar mídias sociais para se engajar e colaborar com diferentes públicos e daí liderar mercados com inovação e escala.
“Os ciclos até são parecidos, mas o desenvolvimento de startups no Vale do Silício é diferente daqui”, afirmou Juliano Tubino com propriedade já no início da conversa. “A primeira diferença nem é funding, investimento, mas sim a cultura empreendedora. O norte-americano cresce achando natural ganhar dinheiro com o próprio negócio, pensa grande e se educa para a gestão”.
Entretanto, o brasileiro estão se mexendo bastante nesta direção: o recorde de atividades e participantes da Semana Global de Empreendedorismo, no Brasil, dá uma bela noção disso. “Os brasileiros estão andando a largos passos: também tem acesso a tecnologia, por exemplo no programa BizSpark, vários parques tecnológicos e investimentos internacionais”, acrescenta Juliano. Na opinião dele, a propriedade intelectual e a burocracia da legislação para se abrir empresa no Brasil ainda é um fator de dificuldade. “Não tem nada de errado em ganhar dinheiro pelo software que se passou um ano desenvolvendo”, comenta.
Pessoalmente, o líder da Microsoft acredita que outros países não necessitem replicar o modelo do Vale do Silício. “Outros países podem e devem usar a sua fortaleza local. Na Coréia, existem umas trás grandes companhias que detém quase todos os mercados, mas estimulam e incorporam uma série de negócios paralelos. O Brasil tem potencial para ser polo de inovação em tecnologia, mas ainda não é”.
Inovar e empreender não é falta de opção
Uma das perguntas que Juliano gostaria de ver as pessoas usando mais é: inovar para que? “O processo de inovação obrigatoriamente tem erros, falhas. A questão é como conseguir acelerar os erros e chegar finalmente no que é bom. A educação tem um papel fundamental de acelerar este processo de expurgar o que é ruim. Mas empreendedorismo não se ensina, o que você pode fazer é encorajar”.
A oportunidade que ele acredita para as startups brasileiras: “O Brasil fez um catch up impressionante nos últimos anos. Somos o país da moda. Somos atraentes tanto para profissionais como para empresários e investidores, inclusive internacionais. Nossas startups de software deveriam olhar para setores em potencial e resolver como ajudá-los. Talvez o dinheiro esteja em outras áreas. Mas este processo não é fácil e leva tempo, não existe ‘Eureka!'” (uma descoberta genial instantânea) .
Empreender, inovar e investir durante crises foi fundamental para as maiores empresas que conhecemos
Um dado da Fundação Kaufmann (big player mundial de pesquisas sobre empreendedorismo) compartilhado por Juliano chamou bastante a minha atenção. “Mais de metade das companhias listadas na Fortune 500 – ranking das 500 maiores empresas do mundo – surgiram em tempos de crises profundas. Elas lançaram produtos, serviços ou tecnologias que desafiaram o status quo, desafiaram o que de certa forma causou a crise. Uma crise é excelente para empreender, desde que você encontre o que está errado”.
Outro fato destacado por Tubino é a segurança de se trabalhar em uma startup. “O nível de empregos em startups não é muito volátil. Ou seja, em tempos de crise pode ser muito mais seguro estar em uma startup do que em uma grande corporação, que eventualmente precisa demitir em massa”.
Frases de Tubino sobre a Microsoft:
- “somos a maior empresa de investimento em pesquisa e desenvolvimento”.
- “nossa maior inovação é modelo de negócios baseado em parceiros. O sucesso é diretamente proporcional ao sucesso dos parceiros, tanto na venda dos softwares como na criação”;
- “em nível mundial, a cada US$ 1,00 que a MS vende, gera US$ 7,8 para os parceiros”;
- “fazer parte da nossa plataforma é um fator alavancador”.